O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz. (Is 9, 1)
ORAÇÃO DO DIA
Ó Deus onipotente, agora que a nova luz do vosso Verbo Encarnado invade o nosso coração, fazei que manifestemos em ações o que brilha pela fé em nossas mentes. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na Unidade do Espírito Santo. (Oração das Horas)
Primeira Leitura (Is 9,1-6)
Livro do Livro do Profeta Isaías.
1O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu.
2Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade; todos se regozijam em tua presença, como alegres ceifeiros na colheita, ou como exaltados guerreiros ao dividirem os despojos. 3Pois o jugo que oprimia o povo — a carga sobre os ombros, o orgulho dos fiscais — tu os abateste como na jornada de Madiã.
4Botas de tropa de assalto, trajes manchados de sangue, tudo será queimado e devorado pelas chamas.
5Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz.
6Grande será o seu reino e a paz não há de ter fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reinado, que ele irá consolidar e confirmar em justiça e santidade, a partir de agora e para todo o sempre. O amor zeloso do Senhor dos exércitos há de realizar estas coisas.
Salmo Responsorial (Salmo 95)
— Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
— Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
— Cantai ao Senhor Deus um canto novo,/ cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira!/ Cantai e bendizei seu santo nome!
— Dia após dia anunciai sua salvação,/ manifestai a sua glória entre as nações,/ e entre os povos do universo seus prodígios!
— O céu se rejubile e exulte a terra, / aplauda o mar com o que vive em suas águas;/ os campos com seus frutos rejubilem/ e exultem as florestas e as matas.
— Na presença do Senhor, pois ele vem,/ porque vem para julgar a terra inteira./ Governará o mundo todo com justiça,/ e os povos julgará com lealdade.
Segunda Leitura (Tt 2,11-14)
Leitura da Carta de São Paulo a Tito.
Caríssimo: 11A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens. 12Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade, 13aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo.
14Ele se entregou por nós, para nos resgatar de toda maldade e purificar para si um povo que lhe pertença e que se dedique a praticar o bem.
Anúncio do Evangelho (Lc 2,1-14)
1Aconteceu que naqueles dias, César Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento de toda a terra. 2Este primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria.
3Todos iam registrar-se cada um na sua cidade natal. 4Por ser da família e descendência de Davi, José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até a cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia, 5para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. 6Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, 7e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria.
8Naquela região havia pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do seu rebanho. 9Um anjo do Senhor apareceu aos pastores, a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. 10O anjo, porém, disse aos pastores: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: 11Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. 12Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura”. 13E, de repente, juntou-se ao anjo uma multidão da corte celeste. Cantavam louvores a Deus, dizendo: 14“Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados”.
REFLEXÃO
1. «Dum medium silentium omnia… – Quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas e a noite estava no meio do seu curso, a vossa Palavra omnipotente, Senhor, desceu do seu trono real» (Ant. ao Magn. 26 de Dezembro).
Nesta Santa Noite cumpre-se a antiga promessa: o tempo de espera terminou, e a Virgem dá à luz o Messias.
Jesus nasce para a humanidade que vai em busca de liberdade e de paz; nasce para cada homem oprimido pelo pecado, necessitado de salvação e sedento de esperança.
Ao clamor incessante dos povos: Vem, Senhor, salvai-nos!, Deus responde nesta noite: a sua eterna Palavra de amor assumiu a nossa carne mortal. «Sermo tuus, Domine, a regalibus sedibus venit». O Verbo entrou no tempo: nasceu o Emanuel, o Deus connosco.
Nas catedrais e nas basílicas, como nas mais pequenas e longínquas igrejas de todos os recantos do mundo, eleva-se comovido o cântico dos cristãos: «Hoje nasceu para nós o Salvador» (Sal. resp.).
2. Maria «deu à luz o seu filho primogénito; envolveu-O em panos e recostou-O numa manjedoira» (Lc 2,7)
Eis o ícone do Natal: um frágil recém-nascido, que as mãos de uma mulher protegem com pobres panos e depõe na manjedoira.
Quem pode pensar que aquele pequeno ser humano é o «Filho do Altíssimo» (Lc 1,32)? Somente Ela, a Mãe, conhece a verdade e conserva o seu mistério.
Nesta noite, nós também podemos ‘passar’ através do seu olhar, para reconhecer neste Menino o rosto humano de Deus. Para nós também, homens do terceiro milénio, é possível encontrar Cristo e contemplá-Lo com os olhos de Maria.
A noite de Natal torna-se então escola de fé e de vida.
3. Na segunda Leitura, há pouco proclamada, o apóstolo Paulo nos ajuda a compreender o evento-Cristo, que celebramos nesta noite de luz. Ele escreve: «Manifestou-se a graça de Deus, que nos traz a salvação para todos os homens» (Tit 2,11).
A «graça de Deus que manifestou-se» em Jesus é o seu amor misericordioso, que preside a inteira história da salvação e a guia em direcção à sua definitiva realização. A revelação de Deus «na humildade da natureza humana» (Prefácio do Advento I) constitui a antecipação, na terra, da sua «manifestação» gloriosa no fim dos tempos (cf Tit 2,13).
Mais: o acontecimento histórico que estamos vivendo no mistério é o “caminho” que nos é oferecido para poder encontrar a Cristo glorioso. De facto, com a sua Encarnação, Jesus «nos ensina – como observa o Apóstolo – a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos e a viver com ponderação, justiça e piedade, no mundo presente, enquanto aguardamos a ditosa esperança» (Tit 2,12-13).
Ó Natal do Senhor, que inspirastes Santos de todos os tempos!
Penso, entre outros, em São Bernardo e nas suas elevações espirituais diante das cenas comovedoras do presépio; penso em São Francisco de Assis, idealizador da primeira animação “ao vivo” do mistério da Noite Santa; penso em Santa Teresa do Menino Jesus, que diante da orgulhosa consciência moderna voltou a propor, com o seu “pequeno caminho”, o autêntico espírito do Natal.
4. «Achareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoira» (Lc 2,12).
O Menino jaz na pobreza duma manjedoira: este é o sinal de Deus. Passam os séculos e os milénios, mas o sinal permanece, e vale também para nós, homens e mulheres do terceiro milénio. É sinal de esperança para a inteira família humana; sinal de paz para os que sofrem por causa de todo género de conflito; sinal de libertação para os pobres e oprimidos; sinal de misericórdia para quem se encerra no círculo vicioso do pecado; sinal de amor e de consolação para quem se sente só e abandonado.
Sinal pequeno e frágil, humilde e silencioso, mas rico do poder de Deus, que por amor fez-se homem.
5. Senhor Jesus, nós nos aproximamos,
com os pastores, do vosso presépio
para Vos contemplar envolto em panos
e reclinado na manjedoira.
Ó Menino de Belém,
Vos adoramos em silêncio com Maria,
vossa Mãe sempre Virgem.
A Vós glória e louvor nos séculos,
divino Salvador do mundo! Amen. (São João Paulo II, Homilia, 24 de Dezembro de 2002)