3º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B

Aclamai a Deus, toda a terra, cantai a glória de seu nome, rendei-lhe glória e louvor, aleluia! (Sl 65,1s)

ORAÇÃO DO DIA

Ó Deus, que o vosso povo sempre exulte pela renovação espiritual, para que, tendo recuperado agora com alegria a condição de filhos de Deus, espere com plena confiança o dia da ressurreição. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém. (Oração das Horas)

 

Leituras da Liturgia Eucarística: 

Leitura do Livro dos Atos dos Apóstolos:

Naqueles dias, Pedro se dirigiu ao povo, dizendo: 13“O Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus de nossos antepassados glorificou o seu servo Jesus. Vós o entregastes e o rejeitastes diante de Pilatos, que estava decidido a soltá-lo. 14Vós rejeitastes o Santo e o Justo, e pedistes a libertação para um assassino. 15Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas.

17E agora, meus irmãos, eu sei que vós agistes por ignorância, assim como vossos chefes. 18Deus, porém, cumpriu desse modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer. 19Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados”.

Responsório (Sl 4)

— Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!

— Quando eu chamo, respondei-me, ó meu Deus, minha justiça!/ Vós, que soubestes aliviar-me nos momentos de aflição,/ atendei-me por piedade e escutai minha oração!

— Compreendei que nosso Deus faz maravilhas por seu servo,/ e que o Senhor me ouvirá quando lhe faço a minha prece!

— Muitos há que se perguntam: “Quem nos dá felicidade?”/ Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!

— Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço,/ pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!

Segunda Leitura (1Jo 2,1-5a)

Leitura da Primeira Carta de São João:

1Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. 2Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro.

3Para saber que o conhecemos, vejamos se guardamos os seus mandamentos. 4Quem diz: “Eu conheço a Deus”, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele. 5aNaquele, porém, que guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado.

Evangelho (Lc 24,35-48)

Naquele tempo, 35os dois discípulos contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. 36Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco!”

37Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma. 38Mas Jesus disse: “Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? 39Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”.

40E, dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés.

41Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?” 42Deram-lhe um pedaço de peixe assado. 43Ele o tomou e comeu diante deles.

44Depois disse-lhes: “São estas as coisas que vos falei quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”.

45Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, 46e lhes disse: “Assim está escrito: ‘O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, 47e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém’. 48Vós sereis testemunhas de tudo isso”.

REFLEXÃO

“Queridos irmãos e irmãs!

Neste terceiro domingo do tempo pascal, a liturgia traz mais uma vez ao centro da nossa atenção o mistério de Cristo ressuscitado. Vitorioso sobre o mal e sobre a morte, o Autor da vida, que se imolou como vítima de expiação pelos nossos pecados, “continua a oferecer-se por nós e intercede como nosso advogado; sacrificado na cruz não volta a morrer e vive imortal com os sinais da paixão” (cf. Prefácio pascal, 3). Deixemo-nos inundar interiormente pelo esplendor pascal que promana deste grande mistério, e como Salmo responsorial rezemos: “Resplandeça sobre nós, ó Senhor, a luz do teu rosto”.

A luz do rosto de Cristo ressuscitado resplandece sobre nós particularmente através das características evangélicas dos cinco Beatos que nesta celebração são inscritos no álbum dos Santos: Arcangelo Tadini, Bernardo Tolomei, Nuno de Santa Maria Álvares Pereira, Geltrude Comensoli e Caterina Volpicelli. Uno-me de bom grado à homenagem que lhes prestam os peregrinos de várias nações, aqui reunidos, aos quais dirijo com grande afeto uma cordial saudação. As diversas vicissitudes humanas e espirituais destes novos Santos mostram a renovação profunda que o mistério da ressurreição de Cristo realiza no coração do homem; mistério fundamental que orienta e guia toda a história da salvação. Justamente portanto a Igreja nos convida sempre, e ainda mais neste tempo pascal, a dirigir os nossos olhares para Cristo ressuscitado, realmente presente no Sacramento da Eucaristia.

Na página evangélica, São Lucas narra uma das aparições de Jesus ressuscitado (24, 35-48). Precisamente no início do trecho, o evangelista escreve que os dois discípulos de Emaús, regressando à pressa a Jerusalém, contaram aos Onze como o tinham reconhecido “ao partir do pão” (v. 35). E enquanto eles estavam a narrar a extraordinária experiência do seu encontro com o Senhor, Ele “esteve pessoalmente no meio deles” (v. 36). Por causa desta sua improvisa aparição os Apóstolos permaneceram amedrontados e assustados, a ponto que Jesus, para os tranquilizar e vencer qualquer hesitação e dúvida, disse-lhes que lhe tocassem não era um fantasma, – mas um homem de carne e osso – e em seguida pediu de comer. Mais uma vez, como tinha acontecido com os dois de Emaús, é enquanto está à mesa e come com os seus, que Cristo ressuscitado se manifesta aos discípulos, ajudando-os a compreender as Escrituras e a reler os acontecimentos da salvação à luz da Páscoa. “É preciso que se cumpram – diz ele – todas as coisas escritas sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (v. 44). E convida-os a olhar para o futuro: “em seu nome serão pregados a todos os povos a conversão e o perdão dos pecados” (v. 47).

Cada comunidade revive esta mesma experiência na celebração eucarística, sobretudo na dominical. A Eucaristia, o lugar privilegiado no qual a Igreja reconhece “o autor da vida” (cf. Act 3, 15), é “a fracção do pão”, como é chamada nos Atos dos Apóstolos. Nela, mediante a fé, entramos em comunhão com Cristo, que é “altar, vítima e sacerdote” (cf. Prefácio pascal, 5) e está no meio de nós. Reunimo-nos em volta d’Ele para fazer memória das suas palavras e dos acontecimentos contidos na Escritura; revivemos a sua paixão, morte e ressurreição. Celebrando a Eucaristia comunicamos com Cristo, vítima de expiação, e d’Ele obtemos perdão e vida. O que seria a nossa vida de cristãos sem a Eucaristia? A Eucaristia é a herança perpétua e viva que o Senhor nos deixou no Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, que devemos constantemente reconsiderar e aprofundar para que, como afirmava o venerado Papa Paulo VI, possa “imprimir a sua inexaurível eficácia sobre todos os dias da nossa vida mortal” (Insegnamenti, v [1967], p. 779). Alimentados pelo Pão eucarístico, os santos que hoje veneramos, cumpriram a sua missão de amor evangélico nos diversos campos, nos quais empregaram os seus peculiares carismas.

Transcorria longas horas em oração diante da Eucaristia o Santo Arcangelo Tadini, o qual, tendo sempre como finalidade no seu ministério pastoral a pessoa humana na sua totalidade, ajudava os seus paroquianos a crescer humana e espiritualmente. Este santo sacerdote, este santo pároco, homem totalmente de Deus, pronto em todas as circunstâncias a deixar-se guiar pelo Espírito Santo, estava ao mesmo tempo disponível para acolher as urgências do momento e para lhes encontrar a solução. Por isso, assumiu muitas iniciativas concretas e corajosas, como a organização da “Sociedade Operária Católica de Mútuo Socorro”, a construção da fiação e do internato para as operárias e a fundação, em 1900, da “Congregação das Irmãs Operárias da Santa Casa de Nazaré”, com a finalidade de evangelizar o mundo do trabalho através da partilha da fadiga, a exemplo da Sagrada Família de Nazaré. Como foi profética a intuição carismática do Pe. Tadini e como permanece atual o seu exemplo também hoje, numa época de grave crise económica! Ele recorda-nos que só cultivando uma relação constante e profunda com o Senhor, especialmente no Sacramento da Eucaristia, podemos ser depois capazes de levar o fermento do Evangelho às várias atividades laborativas e em todos os âmbitos da nossa sociedade.

Também em São Bernardo Tolomei, iniciador de um singular movimento monástico beneditino, sobressai o amor pela oração e pelo trabalho manual. A sua existência foi eucarística, toda dedicada à contemplação, que se traduzia em serviço humilde ao próximo. Devido ao seu singular espírito de humildade e de acolhimento fraterno, os monges reelegeram-no abade por vinte e sete anos consecutivos, até à morte. Além, disso, para garantir o futuro da sua obra, obteve de Clemente VI, a 21 de Janeiro de 1344, a aprovação pontifícia da nova Congregação beneditina, chamada “Santa Maria de Monte Oliveto”. Por ocasião da grande peste de 1348, deixou a solidão de Monte Oliveto para ir ao mosteiro de São Bento em Porta Tufi, em Sena, a fim de assistir os seus monges atingidos pelo mal, e morreu ele mesmo vítima da doença como autêntico mártir da caridade. Do exemplo deste Santo chega até nós o convite para traduzir a nossa fé numa vida dedicada a Deus na oração e ao serviço do próximo sob o estímulo de uma caridade pronta também para o sacrifício supremo.

“Sabei que o Senhor me fez maravilhas. Ele me ouve, quando eu o chamo” (Sl 4, 4). Estas palavras do Salmo Responsorial exprimem o segredo da vida do bem-aventurado Nuno de Santa Maria, herói e santo de Portugal. Os setenta anos da sua vida situam-se na segunda metade do século XIV e primeira do século XV, que viram aquela nação consolidar a sua independência de Castela e estender-se depois pelos Oceanos – não sem um desígnio particular de Deus – abrindo novas rotas que haviam de propiciar a chegada do Evangelho de Cristo até aos confins da terra. São Nuno sente-se instrumento deste desígnio superior e alistado na militia Christi, ou seja, no serviço de testemunho que cada cristão é chamado a dar no mundo. Características dele são uma intensa vida de oração e absoluta confiança no auxílio divino. Embora fosse um óptimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à ação suprema que vem de Deus. São Nuno esforçava-se por não pôr obstáculos à ação de Deus na sua vida, imitando Nossa Senhora, de Quem era devotíssimo e a Quem atribuía publicamente as suas vitórias. No ocaso da sua vida, retirou-se para o Convento do Carmo por ele mandado construir. Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélico, é possível atuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus.

Uma particular atracção por Jesus presente na Eucaristia sentiu desde menina Santa Geltrude Comensoli. A adoração de Cristo eucarístico tornou-se a finalidade principal da sua vida, poderíamos quase dizer a condição habitual da sua existência. De facto, foi diante da Eucaristia que Santa Geltrude compreendeu a sua vocação e missão na Igreja: a de se dedicar sem reservas à ação apostólica e missionária, sobretudo a favor da juventude. Nasceu assim, em obediência ao Papa Leão XIII, o seu Instituto que se propunha transformar a “caridade contemplada” no Cristo eucarístico, em “caridade vivida” na dedicação ao próximo necessitado. Numa sociedade desorientada e muitas vezes ferida, como a nossa, a uma juventude, como a dos nossos tempos, em busca de valores e de um sentido para a própria existência, Santa Geltrude indica como firme ponto de referência o Deus que na Eucaristia se fez nosso companheiro de viagem. Recorda-nos que “a adoração deve prevalecer acima de todas as obras de caridade” porque é do amor a Cristo morto e ressuscitado, realmente presente no Sacramento eucarístico, que brota aquela caridade evangélica que nos impele a considerar todos os homens nossos irmãos.

Testemunha do amor divino foi também Santa Caterina Volpicelli, que se esforçou por “ser de Cristo, para conduzir a Cristo” quantos teve a ventura de encontrar na Nápoles nos finais do séc. XIX, num tempo de crise espiritual e social. Também para ela o segredo foi a Eucaristia. Recomendava às suas primeiras colaboradoras que cultivassem uma intensa vida espiritual na oração e, sobretudo, o contato vital com Jesus eucarístico. Esta é também hoje a condição para prosseguir a obra e a missão por ela iniciada e deixada em herança às “Servas do Sagrado Coração”. Para ser autênticas educadoras da fé, desejosas de transmitir às novas gerações os valores da cultura cristã, é indispensável, como gostava de repetir, libertar Deus das prisões nas quais os homens o colocaram. De facto, só no Coração de Cristo a humanidade pode encontrar a sua “morada permanente”. Santa Caterina mostra às suas filhas espirituais e a todos nós, o caminho exigente de uma conversão que mude radicalmente o coração, e se transforme em ações coerentes com o Evangelho. Assim é possível lançar as bases para construir uma sociedade aberta à justiça e à solidariedade, superando aquele desequilíbrio económico e cultural que continua a subsistir em grande parte do nosso planeta.

Amados irmãos e irmãs, demos graças ao Senhor pelo dom da santidade, que hoje resplandece na Igreja com singular beleza em Arcangelo Tadini, Bernardo Tolomei, Nuno de Santa Maria Álvares Pereira, Geltrude Comensoli e Caterina Volpicelli. Deixemo-nos atrair pelos seus exemplos, deixemo-nos guiar pelos seus ensinamentos, a fim de que também a nossa existência se torne um cântico de louvor a Deus, nas pegadas de Jesus, adorado com fé no mistério eucarístico e servido com generosidade no nosso próximo. Que nos obtenha a realização desta missão evangélica a materna intercessão de Maria, Rainha dos Santos, e destes novos cinco luminosos exemplos de santidade, que hoje com alegria veneramos. Amém!” (Papa Bento XVI, Homilia, Domingo da Páscoa, 26 de abril de 2009)

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s