31º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

Não me abandoneis jamais, Senhor; meu Deus, não fiqueis longe de mim! Depressa, vinde em meu auxílio, é Senhor, minha salvação! (Sl 37,22s)

Oração do dia

Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Primeira Leitura (Dt 6,2-6)

Leitura do Livro do Deuteronômio:

Moisés falou ao povo, dizendo: 2“Temerás o Senhor teu Deus, observando durante toda a vida todas as suas leis e os seus mandamentos que te prescrevo, a ti, a teus filhos e netos, a fim de que se prolonguem os teus dias.

3Ouve, Israel, e cuida de os pôr em prática, para seres feliz e te multiplicares sempre mais, na terra onde corre leite e mel, como te prometeu o Senhor, o Deus de teus pais.

4Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. 5Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. 6E trarás gravadas em teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno”.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

Salmo Responsorial (Sl 17)

— Eu vos amo, ó Senhor, porque sois minha força!

— Eu vos amo, ó Senhor, porque sois minha força!

— Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força,/ minha rocha, meu refúgio e Salvador!/ Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga,/ minha força e poderosa salvação.

— Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga,/ sois meu escudo e proteção: em vós espero!/ Invocarei o meu Senhor: a ele a glória,/ e dos meus perseguidores serei salvo!

— Viva o Senhor! Bendito seja o meu Rochedo!/ E louvado seja Deus, meu Salvador./ Concedeis ao vosso rei grandes vitórias/ e mostrais misericórdia ao vosso Ungido.

Segunda Leitura (Hb 7,23-28)

Leitura da Carta aos Hebreus:

Irmãos: 23Os sacerdotes da antiga aliança sucediam-se em grande número, porque a morte os impedia de permanecer. 24Cristo, porém, uma vez que permanece para a eternidade, possui um sacerdócio que não muda. 25Por isso, ele é capaz de salvar para sempre aqueles que, por seu intermédio, se aproximam de Deus. Ele está sempre vivo para interceder por eles. 26Tal é precisamente o sumo sacerdote que nos convinha: santo, inocente, sem mancha, separado dos pecadores e elevado acima dos céus.

27Ele não precisa, como os sumos sacerdotes, oferecer sacrifícios em cada dia, primeiro por seus próprios pecados e depois pelos do povo. Ele já o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo. 28A Lei, com efeito, constituiu sumos sacerdotes sujeitos à fraqueza, enquanto a palavra do juramento, que veio depois da Lei, constituiu alguém que é Filho, perfeito para sempre.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

Anúncio do Evangelho (Mc 12,28b-34)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 28b um mestre da Lei aproximou-se de Jesus e perguntou: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”

29Jesus respondeu: “O primeiro é este: Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! 31O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes”. 32O mestre da Lei disse a Jesus: “Muito bem, Mestre! Na verdade, é como disseste: Ele é o único Deus e não existe outro além dele. 33Amá-lo de todo o coração, de toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo é melhor do que todos os holocaustos e sacrifícios”.

34Jesus viu que ele tinha respondido com inteligência e disse: “Tu não estás longe do Reino de Deus”. E ninguém mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

REFLEXÃO

Celebramos hoje o 31.º Domingo do Tempo Comum. Trata-se do domingo em que a Igreja proclama o Evangelho do amor. Sim, essa é a página do Evangelho deste domingo, tirada de São Marcos, capítulo 12, versículos 28–34. Deixe-me fazer um resumo do Evangelho para você entender de que estamos falando. Jesus está numa controvérsia com os judeus da época, os saduceus, fariseus etc., e finalmente um mestre da Lei se aproxima dele, mas — pelo que tudo indica — com boa vontade. Ele vê que Jesus conseguiu “calar a boca” aos seus adversários, os saduceus. Vendo a sabedoria de Cristo, ele se aproxima e pergunta-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos?

Não é uma pergunta qualquer. O mestre da Lei está querendo de Jesus uma orientação. Por quê? Porque ele era um especialista, um escriba, ou seja, um letrado, que sabia ler a Lei do Antigo Testamento; ora no Antigo Testamento, havia mais de 600 preceitos que os judeus tinham de pôr em prática! Mas há que haver uma ordem nas coisas, e também nos mandamentos. Qual então é o primeiro deles? Jesus responde o seguinte: O primeiro é este: Ouve, ó Israel. O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força. E o segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior do que estes”.

Até aqui temos um resumo do Evangelho deste domingo. Você dirá: “Ah! essa passagem eu já conheço. Já sei do que se está falando”. Mas acontece que, se nós olharmos essa página do Evangelho não como algo já conhecido, mas procurando aprofundá-la, iremos enxergar que, aqui, há verdades de cuja existência talvez você nem suspeitasse, ou de que elas estivessem escondidas atrás dessas frases que você sabe de cor. Pois bem, o que Jesus respondeu ao mestre da Lei e o que ele nos está ensinando hoje? Primeiro ele diz: Ouve, ó Israel. O mestre da Lei perguntou qual é o primeiro dos mandamentos. Nossa tendência é abreviar a história e dizer: “Ah! O primeiro mandamento é: Amarás o Senhor teu Deus”. Não, não foi isso o que Jesus disse. Sim, ele irá dizer: Amarás o Senhor teu Deus, mas não é assim que ele começa. 

O Senhor começa de acordo com a primeira leitura deste domingo, tirada de Deuteronômio, capítulo 6, versículo 4: Shemá Israel, quer dizer, Ouve, ó Israel. O primeiro mandamento, antes do de amar, sabe qual é? É o do ouvir, e há nisto uma pedagogia divina. Deus nos está dizendo que tudo começa pela fé, isto é, pelo ouvir ao único e verdadeiro Deus. Ora, quantos deuses você tem? Quem é Deus para você? No Deuteronômio, Deus disse ao povo de Israel: Shemá Israel, Adonai elohenu, ou seja: O Senhor é o nosso DeusAdonai echadO Senhor é um só. Por que isso é importante? Porque, se o seu coração tem muitos amores, então ele está dividido. 

Examinemos a nossa vida. Com o que você gasta o dia? Afinal, a coisa a que você mais dá ouvidos, aquele em que você mais pensa, eis aí é o seu deus. Se você passa o dia inteiro correndo atrás de dinheiro, o dinheiro é o seu deus; se você passa o dia inteiro correndo atrás de sexo, drogas, conforto, o prazer é o seu deus; se você passa o dia inteiro correndo atrás de fama, de glória, de poder, a vaidade é o seu deus; se você pensa o dia inteiro pensando só em si mesmo, você é o seu deus! Por isso Jesus diz: Ouve, ó Israel, quer dizer: “Ouve, homem! Sai de ti mesmo e ouve ao teu Deus, o único Senhor”. É preciso, primeiro que tudo, ouvir a Deus porque, sem isso, ele nunca será para o homem Deus de verdade, mas uma ideia distante.

Ora, nós só amamos o que conhecemos. Quem passa o dia inteiro pondo lixo na inteligência não pode amar senão lixo! Se você passa o dia inteiro alimentando a inteligência em redes sociais, em WhatsApp, com notícias daqui, notícias de lá; se você passa o dia inteiro xeretando a vida alheia no Instagram: “Ah! fulano postou tal coisa”, “Ah! fulano de tal viajou para não sei onde e o postou no Twitter”, “Olhe só o café da manhã do ciclano, olhe o que ele está comendo”, “Fulano viajou com beltrano. Será que os dois estão juntos?”… Se você passa o dia inteiro investigando a vida dos outros, ou olhando para as coisas que gostaria de comprar, você está ouvindo a quem? Ao mercado, que nos puxa de um lado para o outro. Depois vêm as notícias, as preocupações, as angústias…

Eis uma amostra do quanto nos pode levar para os abismos. É contra isso que São João nos alerta em sua primeira carta: Tudo o que há no mundo é a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, a soberba da vida. A concupiscência da carne é a busca do prazer; a concupiscência dos olhos é a mania de curiosidade sem necessidade; e a soberba da vida está em colocar-se no lugar de Deus, em vez de ser servo humilde dele. Ora, Jesus quer, com voz forte, exorcizar da sua vida esses falsos deuses, essas preocupações mundanas. Ele diz, não só a Israel, mas a cada um de nós: “Ouve, o Senhor é o único Deus. As outras coisas não são Deus!” A finalidade é amá-lo de coração, mas para isso é preciso conhecê-lo com a inteligência.

Ninguém ama o que não conhece, e o diabo sabe disso. É por isso que o inimigo tem introduzido ultimamente, e com grande astúcia, diversas mentiras na Igreja. O que o diabo mais diz hoje em dia é:: “Olhe, Deus é Deus de amor. Você não pode ficar num plano intelectual e abstrato, querendo conhecer a doutrina católica, estudar o Catecismo… Não precisa de nada disso. Vá lá, faça as coisas, ame e deixe-se amar!” E enquanto ele fecha as portas de nossa inteligência para Deus, escancara nossos olhos e ouvidos para as suas próprias bobagens! Assim, quem termina sendo a sua catequese? A mídia, o Instagram, o Facebook, o site de notícias, os filmes da Netflix, as novelas, as conversas fiadas de amigos que não têm nada a ver com Deus, aquela rodinha de gente mundana que só trata de tolices… 

Ora, quem só ouve coisas mundanas termina amando somente coisas mundanas. Se a sua cabeça estiver o tempo todo pensando em bobagem, você vai amar bobagem, e assim viverá arrastado como um escravo. Os seres humanos, ao contrário dos anjos, não somos espíritos puros. Nós temos um corpo, e este corpo funciona de maneira muito semelhante ao dos animais. Como se adestra um animal? Condicionando-o a certas rotinas ou resposta por meios de recompensas. É o que o diabo faz conosco ao nos propor as tentações do mundo: quanto mais instigados formos, quanto mais metidos e ofuscados nas coisas desta terra estivermos, menos tempo, paz e interesse teremos nas coisas do céu. O diabo não quer que nossa alma desperte de sua letargia e finalmente se abra à voz de Deus.

Shemá IsraelOuve, ó Israel! Como porém encontrar a paz necessária para ouvir o Senhor? O primeiro passo para a cura é reconhecer a doença de que se está sofrendo. E qual é a doença de que você sofre? A de ser escravo de coisas mundanas e carnais. Você está longe de si mesmo o tempo todo, descentrado, disperso em mil e uma distrações. Mas você só vai amar a Deus de todo o seu coração se abrir os ouvidos para a sua Palavra.

Trata-se aqui de alimentar a inteligência com coisas divinas. Não custa repetir: se você alimenta a inteligência com lixo o dia todo, sua vontade vai amar lixo; se você alimenta a inteligência com coisas de Deus, seu coração pode tornar-se devoto, cheio de amor e de prontidão para servir a Deus. Uma dica prática. Antes de tudo, procure ter um tempo para Deus no seu dia a dia, um tempo para ouvir as coisas dele. Qual é o melhor momento para isso? O conselho parece fora da realidade, mas funciona: o melhor momento para ouvir as coisas de Deus é de manhã.

Eu não sei a que horas você se deita nem a que horas costuma acordar, mas há uma verdade antropológica atemporal, que não é nem moderna nem medieval. É de sempre: depois do sono, você acorda descansado, menos agitado e, portanto, em condições mais adequadas ao recolhimento, à oração e à escuta. Nós somos corpo e alma, razão pela qual temos de obedecer a certas verdades do nosso corpo, e uma delas é esta: de manhã, após uma noite bem dormida, a cabeça está mais em paz. E no entanto o que faz a maior parte das pessoas? Vai imediatamente para o celular! Acordou? “Opa! Quem mandou mensagem no WhatsApp?”, e assim começam a se agitar outra vez com notícias, com fofocas… 

Não faça isso. Durante o dia você já será chicoteado de todos os lados, carregado e arrastado como um cachorro na coleira, e dificilmente conseguirá ouvir a Deus nesse tumulto. Ora, você quer amá-lo de todo o coração? Você quer amar o próximo como a si mesmo, como Jesus ensina no Evangelho? Então ouve, ouve. Deixe de agitação. Deus quer falar a você como um noivo à sua noiva, como um esposo à esposa. Santa Teresinha formulou a lei básica do amor: A des amants, il faut la solitude — “Para pessoas amantes é necessária a solidão”. Qualquer namorado sabe disso. Qualquer amigo sabe disso. Ora, se Deus é nosso amigo, Ele quer estar a sós conosco.

Tire um tempo para Deus. Se está com dificuldade de rezar, ponha em ordem o seu horário de sono. Durma direito, durma o suficiente e, ao acordar, dedique o primeiro momento do dia a Deus. Você estará menos agitado e mais aberto ao que Deus quer falar ao seu coração, como um amigo íntimo que quer falar ao outro. Faça então este propósito: só olhe para o bendito celular depois! Não sei, repito, a que horas você acorda. Às seis? às sete? talvez às oito horas? Não interessa. Acordou? Desligue o despertador, mas não abra o celular! Dedique a Deus o primeiro momento do dia.

Dessa forma, você verá os efeitos da oração porque terá rezado com a alma menos agitada pelo cérebro, pelas emoções, ou pelas preocupações do dia a dia. O que Jesus diz no Evangelho deste domingo é algo bem prático. Sim, é preciso amar a Deus de todo o coração; é preciso amar o próximo, não há dúvida, mas ninguém ama o que não conhece. Então ouveouveouve o Senhor teu Deus! Ele merece ser ouvido. Se você fizer isso, Jesus olhará para você como olhou para o mestre da Lei, dizendo: Tu não estás longe do reino de Deus. (Padre Paulo Ricardo, Homilia Dominical, 31 out 2021)

Fonte: padrepauloricardo.org/episodios

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