2º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A

“Meu coração disse: Senhor, buscarei a vossa face. É vossa face, Senhor, que eu procuro, não desvieis de mim o vosso rosto!” Sl 26,8s

ORAÇÃO DO DIA

Ó Deus, que nos mandastes ouvir o vosso Filho amado, alimentais nosso espírito com a vossa palavra, para que, purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão da vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém

 

Leituras da Liturgia Eucarística: Gn 12,1-4; Sl 32(33); 2Tm 1,8-10; Mt 17,1-9

 

EVANGELHO: MT 17,1-9

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram-lhe Moisés e Elias, conversando com Jesus.

Então Pedro tomou a palavra e disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!”

Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos e não tenhais medo”.

Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”.

 

REFLEXÃO

“Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje o Evangelho apresenta-nos o evento da Transfiguração. É a segunda etapa do caminho quaresmal: a primeira, as tentações no deserto, no domingo passado; a segunda, a Transfiguração. Jesus «tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1). A montanha na Bíblia representa o lugar da proximidade com Deus e do encontro íntimo com Ele; o lugar da oração, no qual estar na presença do Senhor. Lá no monte, Jesus mostra-se aos três discípulos, luminoso, lindíssimo; e depois aparecem Moisés e Elias, que conversam com Ele. O seu rosto é tão esplendoroso e as suas vestes tão cândidas, que Pedro fica fulgurado, a ponto que queria permanecer ali, como que parar aquele momento. Imediatamente ressoa do alto a voz do Pai que proclama Jesus seu Filho predileto, dizendo: «ouvi-O» (v. 5). Esta palavra é importante! O nosso Pai que disse a estes apóstolos, e diz também a nós: «Ouvi Jesus, porque é o meu Filho predileto». Mantenhamos, esta semana, esta palavra na mente e no coração: «Ouvi Jesus!». E isto não é o Papa que o diz, é Deus Pai, a todos: a mim, a vós, a todos, todos! É como uma ajuda para ir em frente pelo caminho da Quaresma. «Ouvi Jesus!». Não esqueçais.

É muito importante este convite do Pai. Nós, discípulos de Jesus, somos chamados a ser pessoas que ouvem a sua voz e levam a sério as suas palavras. Para ouvir Jesus, é preciso estar próximos dele, segui-lo, como faziam as multidões do Evangelho que o seguiam pelas estradas da palestina. Jesus não tinha uma cátedra ou um púlpito fixos, era um mestre itinerante, que propunha os seus ensinamentos, que eram os ensinamentos que o Pai lhe tinha dado, ao longo das estradas, percorrendo trajetos nem sempre previsíveis e por vezes pouco fáceis. Seguir Jesus para o ouvir. Mas também ouvimos Jesus na sua Palavra escrita, no Evangelho. Faço-vos uma pergunta: vós leis todos os dias um trecho do Evangelho? Sim, não… sim, não… Metade e metade… Alguns sim e alguns não. Mas é importante! Leis o Evangelho? É bom; é bom ter um pequeno Evangelho, pequeno, e levá-lo conosco, no bolso, na carteira, e ler um pequeno trecho em qualquer momento do dia. Em qualquer momento do dia tiro do bolso o Evangelho e leio algo, um pequeno trecho. Nele é Jesus que fala, no Evangelho! Pensai nisto. Não é difícil, nem sequer necessário que sejam os quatro: um dos Evangelhos, pequeníssimo, conosco. Sempre o Evangelho conosco, porque é a Palavra de Jesus, para a poder ouvir.

Deste episódio da Transfiguração gostaria de indicar dois elementos significativos, que sintetizo em duas palavras: subida e descida. Precisamos de ir para um lugar apartado, de subir ao monte num espaço de silêncio, para nos reencontrarmos a nós mesmos e ouvir melhor a voz do Senhor. Fazemos isto na oração. Mas não podemos permanecer ali! O encontro com Deus na oração estimula-nos de novo a «descer do monte» e voltar para baixo, para a planície, onde encontramos tantos irmãos sobrecarregados por canseiras, doenças, injustiças, ignorâncias, pobreza material e espiritual. A estes nossos irmãos que estão em dificuldade, estamos chamados a levar os frutos da experiência que fizemos com Deus, partilhando a graça recebida. E isto é curioso. Quando ouvimos a palavra de Jesus, escutamos a Palavra de Jesus e a temos no coração, aquela Palavra cresce. E sabeis como cresce? Oferecendo-a ao próximo! A Palavra de Cristo em nós cresce quando a proclamamos, quando a oferecemos aos outros! É esta a vida cristã. É uma missão para toda a Igreja, para todos os batizados, para todos nós: ouvir Jesus e oferecê-lo aos outros. Não esqueçais: esta semana, ouvi Jesus! E pensai no Evangelho: fá-lo-eis? Fareis isto? Depois no próximo domingo dir-me-eis se fizestes isto: ter um pequeno Evangelho no bolso ou na carteira para ler um pequeno trecho durante o dia.

E dirijamo-nos agora à nossa Mãe Maria, e recomendemo-nos à sua guia para prosseguir com fé e generosidade este itinerário da Quaresma, aprendendo a «subir» um pouco mais com a oração e a ouvir Jesus, e a «descer» com a caridade fraterna, anunciando Jesus.” (Papa Francisco, Angelus, 16 de março de 2014)

1º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A

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“Quando meu servo chamar, hei de atende-lo, estarei com ele na tribulação. Hei de livrá-lo e glorifica-lo e lhe darei longos dias.” (Sl 90,15s)

 

ORAÇÃO

Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa. Por nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém

 

Leituras da Liturgia Eucarística: Gn 2,7-9; 3,1-7; Sl 50; Rm 5,12.17-19; Mt 4,1-11

 

EVANGELHO: Mt 4,1-11

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Naquele tempo, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome. Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” Mas Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’”.

Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo, e lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”. Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’”

Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória, e lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar”. Jesus lhe disse: “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor, teu Deus, e somente a ele prestarás culto’”. Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus.

 

REFLEXÃO

“Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho do primeiro domingo da Quaresma apresenta cada ano o episódio das tentações de Jesus, quando o Espírito Santo, que desceu sobre Ele depois do baptismo no Jordão, o levou a enfrentar abertamente Satanás no deserto, por quarenta dias, antes de iniciar a sua missão pública.

O tentador procura desencorajar Jesus do projeto do Pai, isto é, do caminho do sacrifício, do amor que oferece a si mesmo em expiação, para lhe fazer empreender um caminho fácil, de sucesso e poder. O duelo entre Jesus e Satanás dá-se com uma troca de citações da Sagrada Escritura. Com efeito, para desencorajar Jesus do caminho da cruz, o diabo recorda-lhe as falsas esperanças messiânicas: o bem-estar económico, indicado pela possibilidade de transformar as pedras em pão; o estilo espetacular e milagroso, com a ideia de se lançar do ponto mais alto do templo de Jerusalém e de se fazer salvar pelos anjos; e por fim o atalho do poder e do domínio, em troca de um ato de adoração a Satanás. São os três grupos de tentações: também nós os conhecemos bem!

Jesus rejeita com decisão todas estas tentações e reafirma a vontade decidida de seguir o percurso estabelecido pelo Pai, sem qualquer compromisso com o pecado e com a lógica do mundo. Observai bem como Jesus responde. Ele não dialoga com Satanás, como tinha feito Eva no paraíso terrestre. Jesus sabe bem que com Satanás não se pode dialogar, porque é muito astuto. Por isso Jesus, em vez de dialogar como tinha feito Eva, escolhe refugiar-se na Palavra de Deus e responde com a força desta Palavra. Recordemo-nos disto: no momento da tentação, das nossas tentações, nenhum diálogo com Satanás, mas defendidos sempre pela Palavra de Deus! E isto nos salvará. Nas suas respostas a Satanás, o Senhor, usando a Palavra de Deus, recorda-nos antes de tudo que «não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4, 4: cf. Dt 8, 3); e isto dá-nos a força, ampara-nos na luta contra a mentalidade mundana que abaixa o homem ao nível das necessidades primárias, fazendo-lhe perder a fome do que é verdadeiro, bom e belo, a fome de Deus e do seu amor. Recorda ainda que «está escrito também: “Não porás à prova o Senhor teu Deus” (v. 7), porque o caminho da fé passa também pela escuridão, pela dúvida, e alimenta-se de paciência e expectativa perseverante. Por fim, Jesus recorda que «está escrito: “Adorarás ao Senhor, teu Deus: a Ele unicamente prestarás culto”» (v. 10); ou seja, devemos abandonar os ídolos, as coisas vãs, e construir a nossa vida sobre o essencial.

Depois estas palavras de Jesus encontrarão confirmação concreta nas suas ações. A sua fidelidade total ao desígnio de amor do Pai conduzi-lo-á após cerca de três anos à prestação de contas final com o «príncipe deste mundo» (Jo 16, 11), na hora da paixão e da cruz, e ali Jesus alcançará a sua vitória definitiva, a vitória do amor!

Queridos irmãos, o tempo da Quaresma é ocasião propícia para todos nós cumprirmos um caminho de conversão, confrontando-nos sinceramente com esta página do Evangelho. Renovemos as promessas do nosso Baptismo: renunciemos a Satanás e a todas as suas obras e seduções — porque ele é um sedutor — para caminhar pelas veredas de Deus e «chegar à Páscoa na alegria do Espírito» (Oração coleta do 1º domingo de Quaresma do Ano A)”. (Papa Francisco, Angelus, 09 de março de 2014)