5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO B

A mim, ó Deus, fazei justiça, defendei a minha causa contra a gente sem piedade; do homem perverso e traidor liberta-me, porque sois, ó Deus, o meu socorro (Sl 42, 1s).

 

ORAÇÃO DO DIA

Senhor nosso Deus, dai-nos por vossa graça caminhar com alegria na mesma caridade que levou o vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo.  Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. (Oração das Horas)

 

Leituras da liturgia eucarística: 

Primeira Leitura (Jr 31,31-34)

Leitura do Livro do Profeta Jeremias:

31Eis que virão dias, diz o Senhor, em que concluirei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança; 32não como a aliança que fiz com seus pais, quando os tomei pela mão, para retirá-los da terra do Egito, e que eles violaram, mas eu fiz valer a força sobre eles, diz o Senhor.

33“Esta será a aliança que concluirei com a casa de Israel, depois desses dias, — diz o Senhor: — imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei de inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo. 34Não será mais necessário ensinar seu próximo ou seu irmão, dizendo: ‘Conhece o Senhor!’ Todos me reconhecerão, do menor ao maior deles, diz o Senhor, pois perdoarei sua maldade, e não mais lembrarei o seu pecado”.

 

Salmo Responsorial (Sl 50)

— Criai em mim um coração que seja puro.

— Criai em mim um coração que seja puro.

— Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!/ Na imensidão de vosso amor, purificai-me!/ Lavai-me todo inteiro do pecado,/ e apagai completamente a minha culpa!

— Criai em mim um coração que seja puro,/ dai-me de novo um espírito decidido./ Ó Senhor, não me afasteis de vossa face,/ nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!

— Dai-me de novo a alegria de ser salvo/ e confirmai-me com espírito generoso!/ Ensinarei vosso caminho aos pecadores,/ e para vós se voltarão os transviados.

 

Segunda Leitura (Hb 5,7-9)

Leitura da Carta aos Hebreus:

7Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido por causa de sua entrega a Deus.

8Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. 9Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem.

 

Evangelho (Jo 12,20-33)

Naquele tempo, 20havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar durante a festa. 21Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e disseram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”.

22Filipe combinou com André, e os dois foram falar com Jesus. 23Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. 24Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto. 25Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. 26Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. 27Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. 28Pai, glorifica o teu nome!” Então, veio uma voz do céu: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!”

29A multidão que aí estava e ouviu, dizia que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: “Foi um anjo que falou com ele”. 30Jesus respondeu e disse: “Essa voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por causa de vós. 31É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, 32e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”. 33Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer. 

 

REFLEXÃO:

“Amados irmãos e irmãs,

(…)

«Criai em mim, ó Deus, um coração puro» (Sal 50, 12): pedimos no Salmo Responsorial. Esta súplica manifesta a profundidade com que devemos preparar-nos para celebrar, na próxima semana, o grande mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor. E ajuda-nos também a olhar no íntimo do coração humano, especialmente em momentos feitos de sofrimento e de esperança como os que atravessam atualmente o povo mexicano e outros povos da América Latina.

O anseio de um coração puro, sincero, humilde, agradável a Deus era já muito sentido por Israel, à medida que ia tomando consciência da persistência do mal e do pecado no seu seio, como um poder praticamente implacável e impossível de superar. A única possibilidade que lhe restava era confiar na misericórdia de Deus omnipotente e esperar que Ele mudasse a partir de dentro, do coração, uma situação insuportável, obscura e sem futuro. Assim foi ganhando espaço o recurso à misericórdia infinita do Senhor, que não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 33, 11). Um coração puro, um coração novo, é aquele que se reconhece impotente por si mesmo e se coloca nas mãos de Deus para continuar a esperar nas suas promessas. Deste modo, o salmista pode convictamente dizer ao Senhor: «Os transviados hão-de voltar para Vós» (Sal 50, 15). E, mais adiante, dará uma explicação que é ao mesmo tempo uma firme confissão de fé: «Não desprezareis, Senhor, um espírito humilhado e contrito» (Sal 50, 19).

A história de Israel narra também grandes proezas e batalhas, mas quando se trata da sua vida mais autêntica, do seu destino mais decisivo, isto é, da salvação, mais do que em suas próprias forças, Israel depõe a sua esperança em Deus, que pode criar um coração novo, sensível e submisso. Hoje, isto pode recordar a cada um de nós e aos nossos povos que, quando se trata da vida pessoal e comunitária na sua dimensão mais profunda, não bastam as estratégias humanas para nos salvar. Temos, também nós, de recorrer ao Único que nos pode dar vida em plenitude, porque Ele mesmo é a essência da vida e o seu autor, tendo-nos feito participantes dela por seu Filho Jesus Cristo.

O Evangelho de hoje vai mais longe, fazendo-nos ver como este antigo anseio de vida plena se cumpriu realmente em Cristo. Explica-o São João numa passagem onde se cruzam o desejo que alguns gregos tinham de ver Jesus e o momento em que o Senhor está para ser glorificado. À pergunta dos gregos, representantes do mundo pagão, Jesus responde dizendo: «Chegou a hora de o Filho do Homem ser glorificado» (Jo 12, 23). Uma resposta estranha, que parece incoerente com o pedido dos gregos: que tem a ver a glorificação de Jesus com o pedido de se encontrarem com Ele? E todavia há uma relação. Como anota Santo Agostinho, alguém poderia pensar que Jesus Se sentisse glorificado, porque vinham ter com Ele os gentios; algo parecido – diríamos nós hoje – com os aplausos da multidão, quando tributa «glória» aos grandes do mundo. Mas não é assim. «Convinha que a sublimidade da sua glorificação fosse precedida pela humildade da sua paixão» (In Joannis Ev., 51, 9: PL 35, 1766).

A resposta de Jesus, que anunciava a sua paixão como iminente, diz-nos que um eventual encontro naquela hora seria supérfluo e talvez ilusório. Aquele que os gregos realmente querem ver, contemplá-Lo-ão erguido na cruz, a partir da qual atrairá todos a Si (cf. Jo 12, 32). Lá terá início a sua «glória», por causa do seu sacrifício de expiação por todos, como o grão de trigo caído na terra que, morrendo, germina e dá fruto em abundância. Encontrarão Aquele que o seu coração, sem o saber, seguramente buscava: o verdadeiro Deus que Se faz reconhecível a todos os povos. Este é também o modo como Nossa Senhora de Guadalupe mostrou o seu divino Filho a São Juan Diego: não como um lendário herói portentoso, mas como o verdadeiro Deus pelo Qual se vive, o Criador das pessoas, dos vizinhos e parentes, do Céu e da Terra (cf. Nican Mopohua, v. 33). Naquele momento, Ela fez o que já tinha ensaiado nas Bodas de Caná. Na aflição pela falta de vinho, indicou claramente aos serventes que o caminho a seguir era o seu Filho: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2, 5).

Amados irmãos, quando vinha para cá, passei pelo monumento a Cristo Rei no cimo do Cubilete. O Beato João Paulo II, meu venerado predecessor, embora o desejasse ardentemente, não pôde visitar este lugar emblemático da fé do povo mexicano nas viagens que fez a esta amada terra. Hoje certamente rejubilará no Céu pela graça que o Senhor me concedeu de poder estar agora convosco, como terá abençoado também tantos milhões de mexicanos que ainda recentemente quiseram venerar as suas relíquias em todos os cantos do país. Pois bem, naquele monumento está representado Cristo Rei. Mas as coroas que O acompanham – uma de soberano e outra de espinhos –, indicam que a sua realeza não é como muitos a entenderam e entendem. O seu reino não consiste no poder dos seus exércitos submeterem os outros pela força ou pela violência; funda-se num poder maior, que conquista os corações: o amor de Deus, que Ele trouxe ao mundo com o seu sacrifício, e a verdade de que deu testemunho. Este é o seu domínio, que ninguém Lhe poderá tirar e que ninguém deve esquecer. Por isso é justo que este santuário seja, acima de tudo, um lugar de peregrinação, oração fervorosa, conversão, reconciliação, busca da verdade e acolhimento da graça. Pedimos a Jesus Cristo que reine nos nossos corações, tornando-os puros, dóceis, cheios de esperança e corajosos na sua humildade.

Também hoje, daqui deste parque escolhido para recordar o bicentenário do nascimento da nação mexicana, em que se concentram muitas diversidades sob um destino e uma tarefa comum, pedimos a Cristo um coração puro, onde Ele possa habitar como Príncipe da paz, graças ao poder de Deus que é o poder do bem, o poder do amor. E, para que Deus habite em nós, é preciso escutá-Lo, deixar-se interpelar cada dia pela sua Palavra, meditando-a no próprio coração, a exemplo de Maria (cf. Lc 2, 51). Assim cresce a nossa amizade pessoal com Ele, aprende-se o que Ele espera de nós e recebe-se alento para o darmos a conhecer aos outros.

Na Conferência de Aparecida, os Bispos da América Latina e do Caribe reconheceram, com clarividência, a necessidade de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho, radicada na história destas terras, «a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que desperte discípulos e missionários» (Documento conclusivo, 11). E a Missão Continental, que agora se está realizando de diocese em diocese neste Continente, tem precisamente como objetivo fazer chegar esta convicção a todos os cristãos e às comunidades eclesiais, para que resistam à tentação duma fé superficial e rotineira, por vezes fragmentária e incoerente. Também aqui se deve superar o cansaço da fé e recuperar «a alegria de ser cristão, o ser sustentado pela felicidade interior de conhecer Cristo e pertencer à sua Igreja. E desta alegria nascem também as energias para servir Cristo nas situações opressivas de sofrimento humano, para se colocar à sua disposição em vez de acomodar-se no próprio bem-estar» (Discurso à Cúria Romana, 22 de Dezembro de 2011). Vemo-lo claramente nos Santos, que se entregaram plenamente à causa do Evangelho com entusiasmo e alegria, sem olhar a sacrifícios, incluindo o da própria vida. O seu coração vivia uma aposta incondicional por Cristo, de Quem tinham aprendido o que significa verdadeiramente amar até ao fim.

Neste sentido, o Ano da Fé, que proclamei para toda a Igreja, «é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. (…) Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria» (Porta fidei, 11 de Outubro de 2011, 6.7).

Pedimos à Virgem Maria que nos ajude a purificar o nosso coração, tanto mais que já se aproxima a celebração da festa da Páscoa, para que cheguemos a participar melhor no Mistério de salvação do seu Filho, tal como Ela o deu a conhecer nestas terras. E pedimos-Lhe também que continue a acompanhar e proteger os seus diletos filhos mexicanos e latino-americanos, para que Cristo reine nas suas vidas e os ajude a promover com coragem a paz, a concórdia, a justiça e a solidariedade. Amém.” (Papa Bento XVI, Angelus, 25 de março de 2012)

4º DOMINGO DA QUARESMA – ANO B

“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna.” Jo 3,17

 

ORAÇÃO DO DIA

Ó Deus, que por vosso Filho realizais, de modo admirável, a reconciliação do gênero humano, concedei qo povo cristão correr ao encontro das festas que se aproximam cheio de fervor e exultando de fé. Por nosso Senhor, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. (Oração das Horas)

 

Leituras da liturgia eucarística

Primeira Leitura (2Cr 36,14-16.19-23)

Leitura do Segundo Livro das Crônicas:

Naqueles dias, 14todos os chefes dos sacerdotes e o povo multiplicaram suas infidelidades, imitando as práticas abomináveis das nações pagãs, e profanaram o templo que o Senhor tinha santificado em Jerusalém. 15Ora, o Senhor Deus de seus pais dirigia-lhes frequentemente a palavra por meio de seus mensageiros, admoestando-os com solicitude todos os dias, porque tinha compaixão do seu povo e da sua própria casa.

16Mas eles zombavam dos enviados de Deus, desprezavam as suas palavras, até que o furor do Senhor se levantou contra o seu povo e não houve mais remédio.

19Os inimigos incendiaram a casa de Deus e deitaram abaixo os muros de Jerusalém, atearam fogo a todas as construções fortificadas e destruíram tudo o que havia de precioso.

20Nabucodonosor levou cativos para a Babilônia, todos os que escaparam à espada, e eles tornaram-se escravos do rei e de seus filhos, até que o império passou para o rei dos persas.  21Assim se cumpriu a palavra do Senhor pronunciada pela boca de Jeremias: “Até que a terra tenha desfrutado de seus sábados, ela repousará durante todos os dias da desolação, até que se completem setenta anos”.

22No primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor pronunciada pela boca de Jeremias, o Senhor moveu o espírito de Ciro, rei da Pérsia, que mandou publicar em todo o seu reino, de viva voz e por escrito, a seguinte proclamação:

23“Assim fala Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus do céu, deu-me todos os reinos da terra, e encarregou-me de lhe construir um templo em Jerusalém, que está no país de Judá. Quem dentre vós todos pertence ao seu povo? Que o Senhor, seu Deus, esteja com ele, e que se ponha a caminho”.

 

Salmo Responsorial (Sl 136)

— Que se prenda a minha língua ao céu da boca, se de ti, Jerusalém, eu me esquecer!

— Que se prenda a minha língua ao céu da boca, se de ti, Jerusalém, eu me esquecer!

— Junto aos rios da Babilônia/ nos sentávamos chorando,/ com saudades de Sião./ Nos salgueiros por ali/ penduramos nossas harpas.

— Pois foi lá que os opressores/ nos pediram nossos cânticos;/ nossos guardas exigiam/ alegria na tristeza:/ “Cantai hoje para nós/ algum canto de Sião!”

— Como havemos de cantar/ os cantares do Senhor/ numa terra estrangeira?/ Se de ti, Jerusalém,/ algum dia eu me esquecer,/ que resseque a minha mão!

— Que se cole a minha língua/ e se prenda ao céu da boca,/ se de ti não me lembrar!/ Se não for Jerusalém/ minha grande alegria!

 

Segunda Leitura (Ef 2,4-10)

Leitura da Carta de São Paulo aos Efésios:

Irmãos: 4Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, 5quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos!

6Deus nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar nos céus, em virtude de nossa união com Jesus Cristo. 7Assim, pela bondade que nos demonstrou em Jesus Cristo, Deus quis mostrar, através dos séculos futuros, a incomparável riqueza da sua graça.

8Com efeito, é pela graça que sois salvos, mediante a fé. E isso não vem de vós; é dom de Deus! 9Não vem das obras, para que ninguém se orgulhe. 10Pois é ele quem nos fez; nós fomos criados em Jesus Cristo para as obras boas, que Deus preparou de antemão, para que nós as praticássemos.

 

EVANGELHO: Jo 3,14-21

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: 14“Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. 16Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna.

17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18Quem nele crê, não é condenado, mas, quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. 19Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más.

20Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. 21Mas, quem age conforme a verdade, aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus.

 

REFLEXÃO

“Queridos irmãos e irmãs

No nosso itinerário rumo à Páscoa, chegamos ao quarto domingo de Quaresma. É um caminho com Jesus através do «deserto», ou seja, um tempo durante o qual ouvir em maior medida a voz de Deus e também desmascarar as tentações que falam dentro de nós. No horizonte deste deserto perfila-se a Cruz. Jesus sabe que ela é o ápice da sua missão: com efeito, a Cruz de Cristo é o auge do amor, que nos concede a salvação. É Ele mesmo que nos diz no Evangelho: «Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja elevado, a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna» (Jo 3, 14-15). A referência é ao episódio em que, durante o êxodo do Egito, os judeus foram atacados por serpentes venenosos, e muitos morreram; então, Deus ordenou que Moisés fizesse uma serpente de bronze e que a pusesse sobre um poste: se alguém fosse mordido pelas serpentes, olhando para a serpente de bronze, ficava curado (cf. Nm 21, 4-9). Também Jesus será elevado sobre a Cruz, para que quem quer que esteja em perigo de morte por causa do pecado, dirigindo-se com fé a Ele, que morreu por nós, seja salvo. «Com efeito, Deus – escreve são João – não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 17).

Santo Agostinho comenta: «O médico, na medida das suas possibilidades, vem para curar o doente. Se alguém não seguir as prescrições do médico, arruina-se sozinho. O Salvador veio ao mundo… Se tu não quiseres ser salvo por ele, julgar-te-ás sozinho» (Sobre o Evangelho de João, 12, 12: PL 35, 1190). Portanto, se é infinito o amor misericordioso de Deus, que chegou a ponto de dar o seu único Filho em resgate pela nossa vida, grande é inclusive a nossa responsabilidade: com efeito, cada um deve reconhecer que está enfermo, para poder ser curado; cada um deve confessar o próprio pecado, para que o perdão de Deus, já conferido na Cruz, possa ter efeito no seu coração e na sua vida. Santo Agostinho escreve ainda: «Deus condena os teus pecados; e se também tu os condenares, unir-te-ás a Deus… Quando começa a desagradar-te aquilo que fizeste, então têm início as tuas boas obras, porque condenas as tuas obras más. As obras boas têm início com o reconhecimento das obras más» (Ibid., 13: PL 35, 1191). Às vezes o homem gosta mais das trevas do que da luz, porque está apegados aos seus pecados. Mas só abrindo-se à luz, só confessando sinceramente as suas culpas a Deus, encontrará a paz verdadeira, a alegria autêntica. Então, é importante aproximar-se com regularidade do Sacramento da Penitência, em particular na Quaresma, para receber o perdão do Senhor e intensificar o nosso caminho de conversão.

Caros amigos, amanhã celebraremos a festa solene de são José. Agradeço de coração a todos aqueles que se recordarem de mim na oração, no dia do meu onomástico. Em particular, peço-vos que oreis pela viagem apostólica ao México e a Cuba, que realizarei a partir da próxima sexta-feira. Confiemo-la à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, tão amada e venerada nesses dois países, que me preparo para visitar.” (Papa Bento XVI, Angelus, 18 de março de 2012)

3º DOMINGO DA QUARESMA ANO B

“Tenho os olhos sempre fitos no Senhor, porque livra os meus pés da armadilha. Olhai para mim, tende piedade, pois vivo sozinho e infeliz.” Sl 24,15s

ORAÇÃO DO DIA

Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão da nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. (Oração das Horas)

Leituras da liturgia eucarística:

Primeira Leitura  (Êx 20,1-17 [Forma breve – Êx 20,1-3.7-8.12-17])

Leitura do Livro do Êxodo:

Naqueles dias, 1Deus pronunciou todas estas palavras:

2“Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão. 3Não terás outros deuses além de mim. 4Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que existe em cima, nos céus, ou embaixo, na terra, ou do que existe nas águas, debaixo da terra. 5Não te prostrarás diante desses deuses, nem lhes prestarás culto, pois eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento. Castigo a culpa dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração dos que me odeiam, 6mas uso da misericórdia por mil gerações com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.

7Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não deixará sem castigo quem pronunciar seu nome em vão. 8Lembra-te de santificar o dia de sábado.

9Trabalharás durante seis dias e farás todos os teus trabalhos, 10mas o sétimo dia é sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu gado, nem o estrangeiro que vive em tuas cidades. 11Porque o Senhor fez em seis dias o céu, a terra e o mar, e tudo o que eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso o Senhor abençoou o dia do sábado e o santificou.

12Honra teu pai e tua mãe, para que vivas longos anos na terra que o Senhor teu Deus te dará. 13Não matarás. 14Não cometerás adultério.15Não furtarás. 16Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. 17Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença”.

Salmo Responsorial (Sl 18)

— Senhor, tens palavras de vida eterna.

— Senhor, tens palavras de vida eterna.

— A lei do Senhor Deus é perfeita,/ conforto para a alma!/ O testemunho do Senhor é fiel,/ sabedoria dos humildes.

— Os preceitos do Senhor são precisos,/ alegria ao coração./ O mandamento do Senhor é brilhante,/ para os olhos é uma luz.

— É puro o temor do Senhor,/ imutável para sempre./ Os julgamentos do Senhor são corretos/ e justos igualmente.

— Mais desejáveis do que o ouro são eles,/ do que o ouro refinado./ Suas palavras são mais doces que o mel,/ que o mel que sai dos favos.

Segunda Leitura (1Cor 1,22-25)

Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios:

Irmãos: 22os judeus pedem sinais milagrosos, os gregos procuram sabedoria; 23nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos. 24Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, esse Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus.  25Pois o que é dito insensatez de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.

Evangelho (Jo 2,13-25)

13Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. 14No Templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. 15Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. 16E disse aos que vendiam pombas: “Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” 17Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”. 18Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para agir assim?” 19Ele respondeu: “Destruí este Templo, e em três dias eu o levantarei”.

20Os judeus disseram: “Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias?”

21Mas Jesus estava falando do Templo do seu corpo. 22Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele.

23Jesus estava em Jerusalém durante a festa da Páscoa. Vendo os sinais que realizava, muitos creram no seu nome. 24Mas Jesus não lhes dava crédito, pois ele conhecia a todos; 25e não precisava do testemunho de ninguém acerca do ser humano, porque ele conhecia o homem por dentro.

REFLEXÃO

Amados irmãos e irmãs!

O Evangelho deste terceiro domingo de Quaresma narra — na revelação de são João — o célebre episódio de Jesus que expulsa do templo de Jerusalém os vendedores de animais e os cambistas (cf. Jo 2, 13-25). O episódio, referido por todos os Evangelistas, aconteceu nas proximidades da festa da Páscoa e suscitou grande impressão quer na multidão, quer nos discípulos. Como devemos interpretar este gesto de Jesus? Antes de tudo deve-se observar que Ele não provocou repressão alguma dos detentores da ordem pública, porque foi visto como uma típica acção profética: de facto, os profetas, em nome de Deus, denunciavam com frequência abusos, e por vezes faziam-no com gestos simbólicos. O problema, no máximo, era a sua autoridade. Eis por que os Judeus perguntaram a Jesus: «Que sinal nos apresentas para justificares o Teu proceder?» (Jo 2, 18), demonstra-nos que ages deveras em nome de Deus.

A expulsão dos comerciantes do templo foi interpretada também do ponto de vista político-revolucionário, colocando Jesus na linha do movimento dos zelotas. Eles eram, precisamente, «zelosos» da lei de Deus e dispostos a usar a violência para a fazer respeitar. Na época de Jesus aguardavam um Messias que libertasse Israel do domínio dos Romanos. Mas Jesus desiludiu esta expectativa, a tal ponto que alguns discípulos o abandonaram e Judas Iscariotes até o atraiçoou. Na realidade, é impossível interpretar Jesus como violento: a violência é contrária ao Reino de Deus, é um instrumento do anticristo. A violência nunca está ao serviço da humanidade, mas desumaniza-a.

Ouçamos então as palavras que Jesus disse, fazendo aquele gesto: «Tirai tudo isto daqui e não façais da casa de Meu Pai uma feira». E os discípulos então recordaram-se de que está escrito num Salmo: «Devora-me o zelo pela tua casa» (69, 10). Este salmo é uma invocação de ajuda numa situação de extremo perigo por causa do ódio dos inimigos: a situação que Jesus viverá na sua paixão: o seu zelo pelo amor que paga pessoalmente, não aquele que pretenderia servir Deus mediante a violência. Com efeito, o «sinal» que Jesus dará como prova da sua autoridade será precisamente a sua morte e ressurreição. «Destruí este templo — disse — e edificá-lo-ei em três dias». E são João escreve: «Ele falava do templo do seu corpo» (Jo 2, 20-21). Com a Páscoa de Jesus começa um novo culto, o culto do amor, e um novo templo que é Ele mesmo, Cristo ressuscitado, mediante o qual cada crente pode adorar Deus Pai «em espírito e verdade» (Jo 4, 23).

Queridos amigos, o Espírito Santo começou a construir este novo templo no seio da Virgem Maria. Por sua intercessão, rezemos a fim de que cada cristão se torne pedra viva deste edifício espiritual.” (Papa Bento XVI, Angelus, 11 de março de 2012)