SOLENIDADE DE PENTECOSTES

Vide, Espírito Santo, e enchei com vossos dons os corações dos fiéis; e acendei neles o amor, como um fogo abrasador!

ORAÇÃO DO DIA

Deus eterno e todo-poderoso, quisestes que o mistério pascal se completasse durante cinquenta dias, até à vinda do Espírito Santo. Fazei que todas as nações dispersas pela terra, na diversidade de suas línguas, se unam no louvor do vosso nome. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Primeira Leitura (At 2,1-11)

Leitura dos Atos dos Apóstolos:

1Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. 3Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. 4Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. 5Moravam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. 6Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. 7Cheios de espanto e admiração, diziam: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? 8Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? 9Nós, que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; 11judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus em nossa própria língua!”

Responsório (Sl 103)

— Enviai o vosso Espírito, Senhor,/ e da terra toda a face renovai!

— Enviai o vosso Espírito, Senhor,/ e da terra toda a face renovai!

— Bendize, ó minha alma, ao Senhor!/ Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande!/ Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras!/ Encheu-se a terra com as vossas criaturas!

— Se tirais o seu respiro, elas perecem/ e voltam para o pó de onde vieram./ Enviais o vosso espírito e renascem/ e da terra toda a face renovais.

— Que a glória do Senhor perdure sempre,/ e alegre-se o Senhor em suas obras!/ Hoje seja-lhe agradável o meu canto,/ pois o Senhor é a minha grande alegria!

Segunda Leitura  (1Cor 12,3b-7.12-13)

Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios:

Irmãos: 3bNinguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo. 4Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. 5Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. 6Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. 7A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. 12Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo. 13De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito.

Evangelho (Jo 20.19-23)

19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. 21Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. 22E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”.

REFLEXÃO

Basílica de São Pedro
Domingo, 31 de Maio de 2009

Cada vez que celebramos a Eucaristia, vivemos na fé o mistério que se realiza no altar, ou seja, participamos no supremo gesto de amor que Cristo realizou com a sua morte e ressurreição. O único e idêntico centro da liturgia e da vida cristã — o mistério pascal — adquire então, nas diversas solenidades e festas, “formas” específicas, com ulteriores significados e com particulares dons da graça. Entre todas as solenidades, o Pentecostes distingue-se por importância, porque nela se verifica aquilo que o próprio Jesus anunciara como a finalidade de toda a sua missão na terra. Com efeito, enquanto subia para Jerusalém, declarara aos discípulos: “Vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu, senão que ele já tenha sido ateado?” (Lc 12, 49). Estas palavras encontram a sua mais evidente realização cinquenta dias depois da ressurreição, no Pentecostes, antiga festa judaica que na Igreja se tornou a festividade por excelência do Espírito Santo: “Viram, então, aparecer umas línguas de fogo… e todos ficaram cheios de Espírito Santo” (Act 2, 3-4). O verdadeiro fogo, o Espírito Santo, foi trazido sobre a terra por Cristo. Ele não o arrebatou dos deuses, como fez Prometeu segundo o mito grego, mas fez-se mediador do “dom de Deus”, obtendo-o para nós com o maior gesto de amor da história: a sua morte na cruz.

Deus quer continuar a doar este “fogo” a cada geração humana e, naturalmente, é livre de o fazer como e quando o quer. Ele é espírito, e o espírito “sopra onde quer” (cf. Jo 3, 8). Porém, existe um “caminho normal” que o próprio Deus escolheu para “lançar fogo sobre a terra”: este caminho é Jesus, o seu Filho Unigénito encarnado, morto e ressuscitado. Por sua vez, Jesus Cristo constituiu a Igreja como o seu Corpo místico, para que prolongue a sua missão na história. “Recebei o Espírito Santo” — disse o Senhor aos Apóstolos, na tarde da ressurreição, acompanhando estas palavras com um gesto compreensivo: “soprou” sobre eles (cf. Jo 20, 22). Assim, manifestou que lhes transmitia o seu Espírito, o Espírito do Pai e do Filho. Agora, caros irmãos e irmãs, na hodierna solenidade a Escritura diz-nos mais uma vez como deve ser a comunidade, como devemos ser nós para receber o dom do Espírito Santo. Na narração, que descreve o acontecimento do Pentecostes, o Autor sagrado recorda que os discípulos “se encontravam todos reunidos no mesmo lugar”. Este “lugar” é o Cenáculo, a “sala no andar de cima” onde Jesus realizara a última Ceia com os seus Apóstolos, onde lhes aparecera ressuscitado; aquela sala que se tinha tornado, por assim dizer, a “sede” da Igreja nascente (cf. Act 1, 13). Todavia, mais do que insistir sobre o lugar físico, os Actos dos Apóstolos tencionam acentuar a atitude interior dos discípulos: “Todos, unidos pelo mesmo sentimento, se entregavam assiduamente à oração” (Act 1, 14). Por conseguinte, a concórdia dos discípulos é a condição para que venha o Espírito Santo; e a condição prévia da concórdia é a oração.

Queridos irmãos e irmãs, isto é válido também para a Igreja de hoje, é válido para nós que estamos aqui congregados. Se quisermos que o Pentecostes não se reduza a um simples rito ou a uma comemoração até muito sugestiva, mas seja um acontecimento actual de salvação, temos que nos predispor em expectativa religiosa do dom de Deus, mediante a escuta humilde e silenciosa da sua Palavra. A fim de que o Pentecostes se renove no nosso tempo, talvez seja necessário — sem nada tirar à liberdade de Deus — que a Igreja esteja menos “angustiada” com as actividades e mais dedicada à oração. É quanto nos ensina a Mãe da Igreja, Maria Santíssima, Esposa do Espírito Santo. Este ano o Pentecostes é celebrado precisamente no último dia de Maio, em que habitualmente se comemora a festa da Visitação. Também ela foi uma espécie de pequeno “pentecostes”, que fez jorrar a alegria e o louvor dos corações de Isabel e de Maria, uma estéril e a outra virgem, e ambas se tornaram mães graças à extraordinária intervenção divina (cf. Lc 1, 41-45). A música e o canto, que acompanham esta nossa liturgia, ajudam-nos também eles a sermos concordes na oração, e por isso exprimo o profundo reconhecimento ao Coro da Catedral e à Kammerorchester de Köln. Com efeito, para esta liturgia, no bicentenário da morte de Joseph Haydn, foi escolhida muito oportunamente a sua Harmoniemesse, a última “Missa” composta pelo grande músico, uma sublime sinfonia para a glória de Deus. A todos vós que viestes para esta circunstância, dirijo a minha saudação mais cordial.

Para indicar o Espírito Santo, na narração do Pentecostes os Actos dos Apóstolos recorrem a duas imagens principais: a imagem da tempestade e do fogo. Claramente, São Lucas tem em mente a teofania do Sinai, descrita nos livros do Êxodo (cf. 19, 16-19) e do Deuteronómio (cf. 4, 10-12.36). No mundo antigo, a tempestade era vista como um sinal do poder divino, em cuja presença o homem se sentia subjugado e terrorizado, mas gostaria de sublinhar também mais um aspecto: a tempestade é descrita como “vento impetuoso”, e isto faz pensar no ar, que distingue o nosso planeta dos outros astros e nos permite viver nele. O que o ar é para a vida biológica, o Espírito Santo é para a vida espiritual; e dado que existe uma poluição atmosférica que envenena o ambiente e os seres vivos, assim há também uma poluição do coração e do espírito, que mortifica e envenena a existência espiritual. Do mesmo modo como não podemos habituar-nos aos venenos do ar — e por isso o compromisso ecológico representa hoje em dia uma prioridade — da mesma forma deveríamos agir com relação àquilo que corrompe o espírito. No entanto, parece que a muitos produtos que poluem a mente e o coração, e que circulam nas nossas sociedades por exemplo, as imagens que espectacularizam o prazer, a violência e o desprezo pelo homem e pela mulher a isto parece que nos habituamos sem dificuldades. Também isto é liberdade, diz-se, sem reconhecer que tudo aquilo que polui, intoxica a alma principalmente das novas gerações e acaba por condicionar a sua própria liberdade. A metáfora do vento impetuoso do Pentecostes faz pensar no modo como, ao contrário, é precioso respirar o ar puro, quer com os pulmões, o ar físico, quer com o coração, o ar espiritual, o ar salubre do espírito que é a caridade!

A outra imagem do Espírito Santo que encontramos nos Actos dos Apóstolos é o fogo. No início mencionei o confronto entre Jesus e a figura mitológica de Prometeu, que evoca um aspecto característico do homem moderno. Apropriando-se das energias do cosmos — o “fogo” — hoje o ser humano parece afirmar-se como deus e desejar transformar o mundo excluindo, pondo de lado ou até rejeitando o Criador do universo. O homem já não quer ser imagem de Deus, mas de si mesmo; declara-se autónomo, livre e adulto. Evidentemente, tal atitude revela uma relação não autêntica com Deus, consequência de uma imagem falsa que se constrói dele, como o filho pródigo da parábola evangélica que pensa em realizar-se a si mesmo, afastando-se da casa do pai. Nas mãos de um homem assim, o “fogo” e as suas enormes potencialidades tornam-se perigosos: podem voltar-se contra a vida e contra a própria humanidade, como demonstra a história. Como perene admoestação permanecem as tragédias de Hiroxima e Nagasáqui, onde a energia atómica, utilizada para finalidades bélicas, semeou morte em proporções inauditas.

Na verdade, poder-se-iam encontrar muitos exemplos, menos graves e no entanto igualmente sintomáticos, na realidade de todos os dias. A Sagrada Escritura revela-nos que a energia capaz de mover o mundo não é uma força anónima e cega, mas a acção do “espírito de Deus que se movia sobre a superfície das águas” (Gn 1, 2) no início da criação. E Jesus Cristo “trouxe à terra” não a força vital, que já habitava nela, mas o Espírito Santo, ou seja, o amor de Deus que “renova a face da terra”, purificando-a do mal e libertando-a do domínio da morte (cf. Sl 103 [104], 29-30). Este “fogo” puro, essencial e pessoal, o fogo do amor, desceu sobre os Apóstolos, reunidos em oração com Maria no Cenáculo, para fazer da Igreja o prolongamento da obra renovadora de Cristo.

Finalmente, ainda se tira um último pensamento da narração dos Actos dos Apóstolos: o Espírito Santo vence o medo. Sabemos como os discípulos se tinham refugiado no Cenáculo depois do aprisionamento do seu Mestre e aí permaneceram segregados com o temor de padecer a mesma sorte. Depois da ressurreição de Jesus, este seu medo não desapareceu repentinamente. Mas eis que no Pentecostes, quando o Espírito Santo pairou sobre eles, os homens saíram sem temor e começaram a anunciar a todos a boa notícia de Cristo crucificado e ressuscitado. Não tinham medo algum, porque se sentiam nas mãos do mais forte. Sim, queridos irmãos e irmãs, onde entra, o Espírito de Deus afasta o medo; faz-nos conhecer e sentir que estamos nas mãos de uma Omnipotência de amor: independentemente do que acontece, o seu amor infinito não nos abandona. Demonstram-no o testemunho dos mártires, a coragem dos confessores da fé, o impulso intrépido dos missionários, a sinceridade dos pregadores e o exemplo dos missionários, alguns dos quais são inclusive adolescentes e crianças. Demonstra-o a própria existência da Igreja que, não obstante os limites e as culpas dos homens, continua a atravessar o oceano da história, impelida pelo sopro do Espírito e animada pelo seu fogo purificador. Com esta fé e esta esperança jubilosa repitamos no dia de hoje, por intercessão de Maria: “Enviai o vosso Espírito, Senhor, para renovar a face da terra!”. (Papa Bento XVI, Homilia de 31 de maio de 2009)

ASCENSÃO DO SENHOR – ANO B

2glorio (3)

“Luz da luz, infinito sol! Luz da luz, fogo abrasador! Luz da luz, Cristo Jesus, abrasai-nos no vosso amor!”

 

ORAÇÃO DO DIA

Ó Deus todo-poderoso, a ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros de seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. (Oração das Horas)

Leituras da liturgia eucarística: At 1,1-11; Sl 46; Ef 1-17-23; Mc 16,15-20

Primeira Leitura (At 1,1-11)

Leitura do Livro dos Atos dos Apóstolos:

1No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo, 2até o dia em que foi levado para o céu, depois de ter dado instruções pelo Espírito Santo, aos apóstolos que tinha escolhido. 3Foi a eles que Jesus se mostrou vivo, depois de sua paixão, com numerosas provas. Durante quarenta dias apareceu-lhes falando do Reino de Deus.

4Durante uma refeição, deu-lhes esta ordem: “Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual vós me ouvistes falar: 5‘João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo, dentro de poucos dias’”.

6Então os que estavam reunidos perguntaram a Jesus: “Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel?”

7Jesus respondeu: “Não vos cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com sua própria autoridade. 8Mas recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra”.

9Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu, à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo.

10Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, 11que lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.

Responsório (Sl 46)

— Por entre aclamações Deus se elevou,/ o Senhor subiu ao toque da trombeta.

— Por entre aclamações Deus se elevou,/ o Senhor subiu ao toque da trombeta.

— Povos todos do universo, batei palmas,/ gritai a Deus aclamações de alegria!/ Porque sublime é o Senhor, o Deus Altíssimo,/ o soberano que domina toda a terra.

— Por entre aclamações Deus se elevou,/ o Senhor subiu ao toque da trombeta./ Salmodiai ao nosso Deus ao som da harpa,/ salmodiai ao som da harpa ao nosso Rei!

— Porque Deus é o grande Rei de toda a terra,/ ao som da harpa acompanhai os seus louvores!/ Deus reina sobre todas as nações,/ está sentado no seu trono glorioso.

Segunda Leitura (Ef 1,17-23)

Leitura da Carta de São Paulo aos Efésios:

Irmãos: 17O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer. 18Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, 19e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente.

20Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, 21bem acima de toda a autoridade, poder, potência, soberania, ou qualquer título que se possa mencionar, não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro. 22Sim, ele pôs tudo sob seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, 23que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal.

Evangelho (Mc 16,15-20)

Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, 15e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! 16Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”.

19Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus.

20Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam.

 

REFLEXÃO

“Queridos irmãos e irmãs

Cada vez que celebramos a Santa Missa, ouvimos ressoar no coração as palavras que Jesus confiou aos discípulos na última Ceia, como uma dádiva preciosa: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz” (Jo 14, 27). Como a comunidade cristã e a humanidade inteira têm necessidade de saborear plenamente a riqueza e o poder da paz de Cristo! São Bento foi dela uma grande testemunha, porque a acolheu na sua existência e a fez frutificar em obras de autêntica renovação cultural e espiritual. Precisamente por isso, na entrada da Abadia de Montecassino e de todos os outros mosteiros beneditinos, é posta como mote a palavra “pax”: com efeito, a comunidade monástica é chamada a viver em conformidade com esta paz, que é dom pascal por excelência. Como sabeis, na minharecente viagem à Terra Santa fiz-me peregrino de paz e hoje nesta terra caracterizada pelo carisma beneditino é-me oferecida a ocasião para sublinhar mais uma vez o facto de que a paz é em primeiro lugar dom de Deus e, por conseguinte, a sua força está na oração.

Porém, trata-se de um dom confiado ao compromisso humano. Também a energia necessária para o pôr em prática pode ser alcançada através da oração. Portanto, é fundamental cultivar uma autêntica vida de oração para assegurar o progresso social na paz. Uma vez mais, a história do monaquismo ensina-nos que um grande crescimento de civilização se prepara mediante a escuta quotidiana da Palavra de Deus, que impele os fiéis a um esforço pessoal e comunitário de luta contra todas as formas de egoísmo e de injustiça. Somente aprendendo, com a graça de Cristo, a combater e a vencer o mal dentro de nós e nos relacionamentos com o próximo, podemos tornar-nos construtores de paz e de progresso civil. A Virgem Maria, Rainha da Paz, ajude todos os cristãos nas diversas vocações e situações de vida, a ser testemunhas da paz, que Cristo nos concedeu e nos legou como missão exigente a cumprir em toda a parte.” (Papa Bento XVI, Angelus, 24 de Maio de 2009)

4º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B

A terra está repleta do amor de Deus; por sua palavra foram feitos os céus, aleluia! (Sl 32,5s)

 

ORAÇÃO DO DIA

Deus eterno e todo-poderoso, conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que o rebanho possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do Postor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém. (Oração das Horas)

 

Leituras da Liturgia Eucarística: 

Primeira Leitura (At 4,8-12)

Leitura dos Atos dos Apóstolos:

Naqueles dias, 8Pedro, cheio do Espírito Santo, disse: “Chefes do povo e anciãos: 9hoje estamos sendo interrogados por termos feito o bem a um enfermo e pelo modo como foi curado. 10Ficai, pois, sabendo todos vós e todo o povo de Israel: é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré, — aquele que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos — que este homem está curado, diante de vós.

11Jesus é a pedra que vós, os construtores, desprezastes, e que se tornou a pedra angular. 12Em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos”.

Responsório (Salmo 117)

— A pedra que os pedreiros rejeitaram/ tornou-se agora a pedra angular.

— A pedra que os pedreiros rejeitaram/ tornou-se agora a pedra angular.

— Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! / “Eterna é a sua misericórdia!”/ É melhor buscar refúgio no Senhor,/ do que pôr no ser humano a esperança;/ é melhor buscar refúgio no Senhor,/ do que contar com os poderosos deste mundo!

— Dou-vos graças, ó Senhor, porque me ouvistes/ e vos tornastes para mim o salvador!/ A pedra que os pedreiros rejeitaram/ tornou-se agora a pedra angular./ Pelo Senhor é que foi feito tudo isso;/ que maravilhas ele fez a nossos olhos!

— Bendito seja, em nome do Senhor,/ aquele que em seus átrios vai entrando!/ Vós sois meu Deus, eu vos bendigo e agradeço!/ Vós sois meu Deus, eu vos exalto com louvores!/ Dai graças ao Senhor, porque ele é bom!/ “Eterna é a sua misericórdia!”

Segunda Leitura (1Jo 3,1-2)

Leitura da Primeira Carta de São João:

Caríssimos: 1Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai.

2Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é.

Anúncio do Evangelho (Jo 10,11-18)

Naquele tempo, disse Jesus: 11“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. 12O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. 13Pois ele é apenas um mercenário que não se importa com as ovelhas.

14Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas.

16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.

17É por isso que meu Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. 18Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; essa é a ordem que recebi de meu Pai”.

REFLEXÃO

“Queridos irmãos e irmãs!

Segundo um bonito costume, o “Domingo do Bom Pastor” vê reunidos o Bispo de Roma com o seu presbitério para as Ordenações dos novos sacerdotes da Diocese. Isto constitui sempre um grande dom de Deus; é graça sua! Despertemos portanto em nós um sentimento profundo de fé e de reconhecimento ao viver esta celebração. E neste clima é-me grato saudar o Cardeal Vigário Agostino Vallini, os Bispos Auxiliares, os outros Irmãos no episcopado e no sacerdócio, e com afecto especial vós, queridos Diáconos candidatos ao presbiterado, juntamente com os vossos familiares e amigos. A Palavra de Deus que ouvimos oferece-nos abundantes motivos de meditação: mencionarei alguns, para que ela possa iluminar indelevelmente o caminho da vossa vida e do vosso ministério.

“É Ele a pedra… não há… outro nome pelo qual devamos ser salvos” (Act 4, 11-12). No trecho dos Atos dos Apóstolos admira e faz refletir esta singular “homonímia” entre Pedro e Jesus: Pedro, o qual recebeu o seu novo nome do próprio Jesus, afirma aqui que é Ele, Jesus, “a pedra”. De facto, a única rocha verdadeira é Jesus. O único nome que salva é o seu. O apóstolo e, portanto, o sacerdote, recebe o próprio “nome”, isto é, a própria identidade, de Cristo. Tudo o que faz, fá-lo em seu nome. O seu “eu” torna-se totalmente relativo ao “eu” de Jesus. No nome de Cristo, e não certamente no próprio nome, o apóstolo pode compreender gestos de cura dos irmãos, pode ajudar os “enfermos” a levantar-se e a retomar o caminho (cf. Act 4, 10). No caso de Pedro, o milagre realizado pouco antes torna isto particularmente evidente. E também a referência ao que diz o Salmo é essencial: “a pedra rejeitada pelos construtores / tornou-se pedra angular” (Sl 117[118], 22). Jesus foi “rejeitado”, mas o Pai escolheu-o e colocou-o como fundamento do templo da Nova Aliança. Assim o apóstolo, como o sacerdote, experimenta por sua vez a cruz, e só através dela se torna deveras útil para a construção da Igreja. Apraz a Deus construir a sua Igreja com pessoas que, seguindo Jesus, têm confiança total em Deus, como diz o mesmo Salmo: “É melhor abrigar-se em Iahweh / do que pôr confiança no homem; / é melhor abrigar-se no Senhor / do que pôr confiança nos nobres” (vv. 8-9).

Cabe ao discípulo o mesmo destino do Mestre, que em última análise é o destino escrito na própria vontade de Deus Pai! Jesus confessou-o no final da sua vida, na grande oração chamada “sacerdotal”: “Pai justo, o mundo não te conheceu, mas Eu conheci-Te” (Jo 17, 25). Também anteriormente o tinha afirmado: “Ninguém conhece o Pai senão o Filho” (Mt 11, 27). Jesus experimentou na sua carne a rejeição de Deus por parte do mundo, a incompreensão, a indiferença, a desfiguração do rosto de Deus. E Jesus passou o “testemunho” para os discípulos: “Eu – diz ainda na oração ao Pai – lhes dei a conhecer o teu nome e lhes darei a conhecê-lo, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles” (Jo 17, 26). Por isso o discípulo – e especialmente o apóstolo – experimenta a mesma alegria de Jesus, de conhecer o nome e o rosto do Pai; e partilha também o seu sofrimento, de ver que Deus não é conhecido, que o seu amor não é retribuído. Por um lado exclamamos com alegria, como João na sua primeira Carta: “O mundo não nos conhece, porque não O conheceu” (1 Jo 3, 1). É verdade, e nós sacerdotes fazemos experiência disso: o “mundo” – na acepção joanina do termo – não compreende o cristão, não compreende os ministros do Evangelho. Um pouco porque de facto não conhece Deus, e um pouco porque não quer conhecê-l’O. O mundo não quer conhecer Deus para não ser perturbado pela sua vontade e por isso não quer ouvir os seus ministros, isto poderia pô-lo em crise.

É preciso aqui prestar atenção a uma realidade de facto: que este “mundo”, interpretado no sentido evangélico, insidia também a Igreja, contagiando os seus membros e os próprios ministros ordenados, e sob esta palavra mundo, São João indica e pretende esclarecer uma mentalidade, um modo de pensar e de viver que pode contaminar também a Igreja, e realmente a contamina, e portanto exige vigilância e purificação constantes. Enquanto Deus não se tiver plenamente manifestado, também os seus filhos não serão plenamente “semelhantes a Ele” (1 Jo 3, 2). Estamos “no” mundo, e arriscamos ser também “do” mundo. E de facto por vezes somo-lo. Por isso Jesus no final não rezou pelo mundo, sempre neste sentido, mas pelos seus discípulos, para que o Pai os preservasse do maligno e para que eles fossem livres e diversos do mundo, mesmo vivendo no mundo (cf. Jo 17, 9.15). Naquele momento, no final da Última Ceia, Jesus elevou ao Pai a oração de consagração pelos apóstolos e por todos os sacerdotes de cada época, quando disse: “Santifica-os na verdade” (Jo 17, 17). E acrescentou: “E, por eles, a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade” (Jo 17, 19). Refleti sobre estas palavras de Jesus na homilia da Missa Crismal, na passada Quinta-feira Santa. Hoje retomo essa reflexão fazendo referência ao Evangelho do Bom Pastor, no qual Jesus declara: “Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (cf. Jo 10, 15.17.18).

Ser sacerdote, na Igreja, significa entrar nesta autodoação de Cristo, mediante o Sacramento da Ordem, e entrar totalmente nela. Jesus doou a vida por todos, mas de modo particular consagrou-se por aqueles que o Pai já lhe tinha confiado, para que fossem consagrados na verdade, isto é, n’Ele, e pudessem falar e agir em seu nome, representá-lo, prolongar os seus gestos salvíficos: partir o pão da vida e perdoar os pecados. Assim, o Bom Pastor ofereceu a sua vida por todas as ovelhas, mas ofereceu-a e oferece-a de modo especial às que Ele mesmo “com afeto e predileção”, chamou e chama para o seguir na vida do serviço pastoral. Depois, de modo especial, Jesus rezou por Simão Pedro, e sacrificou-se por ele, porque lhe devia dizer um dia, nas margens do lago de Tiberíades: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 16-17). Analogamente, cada sacerdote é destinatário de uma oração pessoal de Cristo, e do seu próprio sacrifício, e só como tal é habilitado para colaborar com Ele no apascentar o rebanho que é todo e só do Senhor.

Desejo falar aqui de um aspecto que me está particularmente a peito: a oração e o seu vínculo com o serviço. Vimos que ser ordenados sacerdotes significa entrar de modo sacramental e existencial na oração de Cristo pelos “seus”. Deriva disto para nós presbíteros uma vocação particular para a oração, em sentido fortemente cristocêntrico: isto é, somos chamados a “permanecer” em Cristo – como gosta de repetir o evangelista João (cf. Jo 1, 35-39; 15, 4-10) – e este permanecer em Cristo realiza-se particularmente na oração. O nosso ministério é totalmente ligado a este “permanecer” que equivale a rezar, e deriva dele a sua eficiência. Nesta perspectiva devemos pensar nas diversas formas da oração de um sacerdote, antes de tudo na santa Missa quotidiana. A celebração eucarística é o maior e mais nobre acto de oração, e constitui o centro e a fonte da qual também as outras formas recebem a “linfa”: a liturgia das horas, a adoração eucarística, a lectio divina, o santo Rosário, a meditação. Todas estas expressões de oração, que têm o seu centro na Eucaristia, fazem com que na jornada do sacerdote, e em toda a sua vida, se realize a palavra de Jesus: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, … Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10, 14-15). De facto, este “conhecer” e “ser conhecido” em Cristo e, através d’Ele, na Santíssima Trindade, mais não é do que a realidade mais verdadeira e mais profunda da oração. O sacerdote que reza muito, e que reza bem, é progressivamente expropriado de si e cada vez mais unido a Jesus Bom Pastor e Servo dos irmãos. Em conformidade com Ele, também o sacerdote “dá a vida” pelas ovelhas que lhe estão confiadas. Ninguém lha tira: oferece-a por si, em união com o Senhor, o qual tem o poder de dar a sua vida e o poder de a retomar não só para si, mas também para os seus amigos, unidos a Ele pelo Sacramento da Ordem. Assim a própria vida de Cristo, Cordeiro e Pastor, é comunicada a todo o rebanho, mediante os ministros consagrados.

Queridos Diáconos, o Espírito Santo imprima esta Palavra divina, que comentei brevemente, nos vossos corações, para que dê frutos abundantes e duradouros. Isto pedimos por intercessão dos santos apóstolos Pedro e Paulo e de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, a cujo patrocínio intitulei o próximo Ano Sacerdotal. Vo-lo obtenha a Mãe do Bom Pastor, Maria Santíssima. Em cada circunstância da vossa vida, olhai para Ela, estrela do vosso sacerdócio. Como aos servos nas Bodas de Caná, também a vós Maria repete: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5). Na escola da Virgem, sede sempre homens de oração e de serviço, para vos tornardes, no fiel exercício do vosso ministério, sacerdotes santos segundo o coração de Deus.” (Papa Bento XVI, Homilia, 03 de maio de 2009)