3º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B

Aclamai a Deus, toda a terra, cantai a glória de seu nome, rendei-lhe glória e louvor, aleluia! (Sl 65,1s)

ORAÇÃO DO DIA

Ó Deus, que o vosso povo sempre exulte pela renovação espiritual, para que, tendo recuperado agora com alegria a condição de filhos de Deus, espere com plena confiança o dia da ressurreição. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém. (Oração das Horas)

 

Leituras da Liturgia Eucarística: 

Leitura do Livro dos Atos dos Apóstolos:

Naqueles dias, Pedro se dirigiu ao povo, dizendo: 13“O Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus de nossos antepassados glorificou o seu servo Jesus. Vós o entregastes e o rejeitastes diante de Pilatos, que estava decidido a soltá-lo. 14Vós rejeitastes o Santo e o Justo, e pedistes a libertação para um assassino. 15Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas.

17E agora, meus irmãos, eu sei que vós agistes por ignorância, assim como vossos chefes. 18Deus, porém, cumpriu desse modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer. 19Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados”.

Responsório (Sl 4)

— Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!

— Quando eu chamo, respondei-me, ó meu Deus, minha justiça!/ Vós, que soubestes aliviar-me nos momentos de aflição,/ atendei-me por piedade e escutai minha oração!

— Compreendei que nosso Deus faz maravilhas por seu servo,/ e que o Senhor me ouvirá quando lhe faço a minha prece!

— Muitos há que se perguntam: “Quem nos dá felicidade?”/ Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!

— Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço,/ pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!

Segunda Leitura (1Jo 2,1-5a)

Leitura da Primeira Carta de São João:

1Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. 2Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro.

3Para saber que o conhecemos, vejamos se guardamos os seus mandamentos. 4Quem diz: “Eu conheço a Deus”, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele. 5aNaquele, porém, que guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado.

Evangelho (Lc 24,35-48)

Naquele tempo, 35os dois discípulos contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. 36Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco!”

37Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma. 38Mas Jesus disse: “Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? 39Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”.

40E, dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés.

41Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?” 42Deram-lhe um pedaço de peixe assado. 43Ele o tomou e comeu diante deles.

44Depois disse-lhes: “São estas as coisas que vos falei quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”.

45Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, 46e lhes disse: “Assim está escrito: ‘O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, 47e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém’. 48Vós sereis testemunhas de tudo isso”.

REFLEXÃO

“Queridos irmãos e irmãs!

Neste terceiro domingo do tempo pascal, a liturgia traz mais uma vez ao centro da nossa atenção o mistério de Cristo ressuscitado. Vitorioso sobre o mal e sobre a morte, o Autor da vida, que se imolou como vítima de expiação pelos nossos pecados, “continua a oferecer-se por nós e intercede como nosso advogado; sacrificado na cruz não volta a morrer e vive imortal com os sinais da paixão” (cf. Prefácio pascal, 3). Deixemo-nos inundar interiormente pelo esplendor pascal que promana deste grande mistério, e como Salmo responsorial rezemos: “Resplandeça sobre nós, ó Senhor, a luz do teu rosto”.

A luz do rosto de Cristo ressuscitado resplandece sobre nós particularmente através das características evangélicas dos cinco Beatos que nesta celebração são inscritos no álbum dos Santos: Arcangelo Tadini, Bernardo Tolomei, Nuno de Santa Maria Álvares Pereira, Geltrude Comensoli e Caterina Volpicelli. Uno-me de bom grado à homenagem que lhes prestam os peregrinos de várias nações, aqui reunidos, aos quais dirijo com grande afeto uma cordial saudação. As diversas vicissitudes humanas e espirituais destes novos Santos mostram a renovação profunda que o mistério da ressurreição de Cristo realiza no coração do homem; mistério fundamental que orienta e guia toda a história da salvação. Justamente portanto a Igreja nos convida sempre, e ainda mais neste tempo pascal, a dirigir os nossos olhares para Cristo ressuscitado, realmente presente no Sacramento da Eucaristia.

Na página evangélica, São Lucas narra uma das aparições de Jesus ressuscitado (24, 35-48). Precisamente no início do trecho, o evangelista escreve que os dois discípulos de Emaús, regressando à pressa a Jerusalém, contaram aos Onze como o tinham reconhecido “ao partir do pão” (v. 35). E enquanto eles estavam a narrar a extraordinária experiência do seu encontro com o Senhor, Ele “esteve pessoalmente no meio deles” (v. 36). Por causa desta sua improvisa aparição os Apóstolos permaneceram amedrontados e assustados, a ponto que Jesus, para os tranquilizar e vencer qualquer hesitação e dúvida, disse-lhes que lhe tocassem não era um fantasma, – mas um homem de carne e osso – e em seguida pediu de comer. Mais uma vez, como tinha acontecido com os dois de Emaús, é enquanto está à mesa e come com os seus, que Cristo ressuscitado se manifesta aos discípulos, ajudando-os a compreender as Escrituras e a reler os acontecimentos da salvação à luz da Páscoa. “É preciso que se cumpram – diz ele – todas as coisas escritas sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (v. 44). E convida-os a olhar para o futuro: “em seu nome serão pregados a todos os povos a conversão e o perdão dos pecados” (v. 47).

Cada comunidade revive esta mesma experiência na celebração eucarística, sobretudo na dominical. A Eucaristia, o lugar privilegiado no qual a Igreja reconhece “o autor da vida” (cf. Act 3, 15), é “a fracção do pão”, como é chamada nos Atos dos Apóstolos. Nela, mediante a fé, entramos em comunhão com Cristo, que é “altar, vítima e sacerdote” (cf. Prefácio pascal, 5) e está no meio de nós. Reunimo-nos em volta d’Ele para fazer memória das suas palavras e dos acontecimentos contidos na Escritura; revivemos a sua paixão, morte e ressurreição. Celebrando a Eucaristia comunicamos com Cristo, vítima de expiação, e d’Ele obtemos perdão e vida. O que seria a nossa vida de cristãos sem a Eucaristia? A Eucaristia é a herança perpétua e viva que o Senhor nos deixou no Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, que devemos constantemente reconsiderar e aprofundar para que, como afirmava o venerado Papa Paulo VI, possa “imprimir a sua inexaurível eficácia sobre todos os dias da nossa vida mortal” (Insegnamenti, v [1967], p. 779). Alimentados pelo Pão eucarístico, os santos que hoje veneramos, cumpriram a sua missão de amor evangélico nos diversos campos, nos quais empregaram os seus peculiares carismas.

Transcorria longas horas em oração diante da Eucaristia o Santo Arcangelo Tadini, o qual, tendo sempre como finalidade no seu ministério pastoral a pessoa humana na sua totalidade, ajudava os seus paroquianos a crescer humana e espiritualmente. Este santo sacerdote, este santo pároco, homem totalmente de Deus, pronto em todas as circunstâncias a deixar-se guiar pelo Espírito Santo, estava ao mesmo tempo disponível para acolher as urgências do momento e para lhes encontrar a solução. Por isso, assumiu muitas iniciativas concretas e corajosas, como a organização da “Sociedade Operária Católica de Mútuo Socorro”, a construção da fiação e do internato para as operárias e a fundação, em 1900, da “Congregação das Irmãs Operárias da Santa Casa de Nazaré”, com a finalidade de evangelizar o mundo do trabalho através da partilha da fadiga, a exemplo da Sagrada Família de Nazaré. Como foi profética a intuição carismática do Pe. Tadini e como permanece atual o seu exemplo também hoje, numa época de grave crise económica! Ele recorda-nos que só cultivando uma relação constante e profunda com o Senhor, especialmente no Sacramento da Eucaristia, podemos ser depois capazes de levar o fermento do Evangelho às várias atividades laborativas e em todos os âmbitos da nossa sociedade.

Também em São Bernardo Tolomei, iniciador de um singular movimento monástico beneditino, sobressai o amor pela oração e pelo trabalho manual. A sua existência foi eucarística, toda dedicada à contemplação, que se traduzia em serviço humilde ao próximo. Devido ao seu singular espírito de humildade e de acolhimento fraterno, os monges reelegeram-no abade por vinte e sete anos consecutivos, até à morte. Além, disso, para garantir o futuro da sua obra, obteve de Clemente VI, a 21 de Janeiro de 1344, a aprovação pontifícia da nova Congregação beneditina, chamada “Santa Maria de Monte Oliveto”. Por ocasião da grande peste de 1348, deixou a solidão de Monte Oliveto para ir ao mosteiro de São Bento em Porta Tufi, em Sena, a fim de assistir os seus monges atingidos pelo mal, e morreu ele mesmo vítima da doença como autêntico mártir da caridade. Do exemplo deste Santo chega até nós o convite para traduzir a nossa fé numa vida dedicada a Deus na oração e ao serviço do próximo sob o estímulo de uma caridade pronta também para o sacrifício supremo.

“Sabei que o Senhor me fez maravilhas. Ele me ouve, quando eu o chamo” (Sl 4, 4). Estas palavras do Salmo Responsorial exprimem o segredo da vida do bem-aventurado Nuno de Santa Maria, herói e santo de Portugal. Os setenta anos da sua vida situam-se na segunda metade do século XIV e primeira do século XV, que viram aquela nação consolidar a sua independência de Castela e estender-se depois pelos Oceanos – não sem um desígnio particular de Deus – abrindo novas rotas que haviam de propiciar a chegada do Evangelho de Cristo até aos confins da terra. São Nuno sente-se instrumento deste desígnio superior e alistado na militia Christi, ou seja, no serviço de testemunho que cada cristão é chamado a dar no mundo. Características dele são uma intensa vida de oração e absoluta confiança no auxílio divino. Embora fosse um óptimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à ação suprema que vem de Deus. São Nuno esforçava-se por não pôr obstáculos à ação de Deus na sua vida, imitando Nossa Senhora, de Quem era devotíssimo e a Quem atribuía publicamente as suas vitórias. No ocaso da sua vida, retirou-se para o Convento do Carmo por ele mandado construir. Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélico, é possível atuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus.

Uma particular atracção por Jesus presente na Eucaristia sentiu desde menina Santa Geltrude Comensoli. A adoração de Cristo eucarístico tornou-se a finalidade principal da sua vida, poderíamos quase dizer a condição habitual da sua existência. De facto, foi diante da Eucaristia que Santa Geltrude compreendeu a sua vocação e missão na Igreja: a de se dedicar sem reservas à ação apostólica e missionária, sobretudo a favor da juventude. Nasceu assim, em obediência ao Papa Leão XIII, o seu Instituto que se propunha transformar a “caridade contemplada” no Cristo eucarístico, em “caridade vivida” na dedicação ao próximo necessitado. Numa sociedade desorientada e muitas vezes ferida, como a nossa, a uma juventude, como a dos nossos tempos, em busca de valores e de um sentido para a própria existência, Santa Geltrude indica como firme ponto de referência o Deus que na Eucaristia se fez nosso companheiro de viagem. Recorda-nos que “a adoração deve prevalecer acima de todas as obras de caridade” porque é do amor a Cristo morto e ressuscitado, realmente presente no Sacramento eucarístico, que brota aquela caridade evangélica que nos impele a considerar todos os homens nossos irmãos.

Testemunha do amor divino foi também Santa Caterina Volpicelli, que se esforçou por “ser de Cristo, para conduzir a Cristo” quantos teve a ventura de encontrar na Nápoles nos finais do séc. XIX, num tempo de crise espiritual e social. Também para ela o segredo foi a Eucaristia. Recomendava às suas primeiras colaboradoras que cultivassem uma intensa vida espiritual na oração e, sobretudo, o contato vital com Jesus eucarístico. Esta é também hoje a condição para prosseguir a obra e a missão por ela iniciada e deixada em herança às “Servas do Sagrado Coração”. Para ser autênticas educadoras da fé, desejosas de transmitir às novas gerações os valores da cultura cristã, é indispensável, como gostava de repetir, libertar Deus das prisões nas quais os homens o colocaram. De facto, só no Coração de Cristo a humanidade pode encontrar a sua “morada permanente”. Santa Caterina mostra às suas filhas espirituais e a todos nós, o caminho exigente de uma conversão que mude radicalmente o coração, e se transforme em ações coerentes com o Evangelho. Assim é possível lançar as bases para construir uma sociedade aberta à justiça e à solidariedade, superando aquele desequilíbrio económico e cultural que continua a subsistir em grande parte do nosso planeta.

Amados irmãos e irmãs, demos graças ao Senhor pelo dom da santidade, que hoje resplandece na Igreja com singular beleza em Arcangelo Tadini, Bernardo Tolomei, Nuno de Santa Maria Álvares Pereira, Geltrude Comensoli e Caterina Volpicelli. Deixemo-nos atrair pelos seus exemplos, deixemo-nos guiar pelos seus ensinamentos, a fim de que também a nossa existência se torne um cântico de louvor a Deus, nas pegadas de Jesus, adorado com fé no mistério eucarístico e servido com generosidade no nosso próximo. Que nos obtenha a realização desta missão evangélica a materna intercessão de Maria, Rainha dos Santos, e destes novos cinco luminosos exemplos de santidade, que hoje com alegria veneramos. Amém!” (Papa Bento XVI, Homilia, Domingo da Páscoa, 26 de abril de 2009)

6º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B

 

Anunciai com gritos de alegria, proclamai até os extremos da terra: o Senhor libertou o seu povo, aleluia! (ls 48,20)

 

ORAÇÃO DO DIA

Deus Pai todo-poderoso, dai-nos celebrar com fervor estes dias de júbilo em honra do Cristo ressuscitado, para que noss vida corresponda sempre aos mistérios que recordamos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. (Oração das Horas)

Leituras da liturgia eucarística: At 10,25-26.34-35.44-48; Sl 97; 1Jo 4,7-10; Jo 15,9-17

 

EVANGELHO:  Jo 15,9-17

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse isso, para que minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena.

Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando.

Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.

Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá.

Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”.

 

REFLEXÃO

“Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho de hoje — João, capítulo 15 — reconduz-nos ao Cenáculo, onde ouvimos o mandamento novo de Jesus. Diz assim: «Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (v. 12). E pensando no sacrifício da cruz já iminente, acrescenta: «Ninguém tem maior amor do que este: dar a vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando» (vv. 13-14). Estas palavras, pronunciadas durante a Última Ceia, resumem toda a mensagem de Jesus; aliás, resumem tudo o que Ele fez: Jesus deu a vida pelos seus amigos. Amigos que não o tinham compreendido, que no momento crucial o abandonaram, atraiçoaram e renegaram. Isto diz-nos que Ele nos ama mesmo se nós não merecemos o seu amor: assim nos ama Jesus!

Deste modo, Jesus mostra-nos o caminho para o seguir, a via do amor. O seu mandamento não é um simples preceito, que permanece sempre algo abstracto ou exterior em relação à vida. O mandamento de Cristo é novo porque o realizou primeiro, deu-lhe carne, e assim a lei do amor está inscrita de uma vez para sempre no coração do homem (cf. Jr 31, 33). E como está inscrita? Com o fogo do Espírito Santo. E com o mesmo Espírito, que Jesus nos doa, podemos caminhar também nós por esta vereda!

Trata-se de um caminho concreto, que nos leva a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos outros. Jesus mostrou-nos que o amor de Deus se concretiza no amor ao próximo. Os dois caminham juntos. As páginas do Evangelho estão cheias deste amor: adultos e crianças, cultos e ignorantes, ricos e pobres, justos e pecadores foram acolhidos no coração de Cristo.

Portanto, esta Palavra do Senhor chama-nos a amar-nos uns aos outros, mesmo se nem sempre nos compreendemos, nem sempre estamos de acordo… mas é precisamente ali que se vê o amor cristão. O amor que se manifesta mesmo quando há diferenças de opinião ou de carácter, mas o amor é maior do que estas diferenças! Foi este amor que Jesus nos ensinou. É um amor novo porque renovado por Jesus e pelo seu Espírito. É um amor remido, libertado do egoísmo. Um amor que dá alegria ao nosso coração, como diz Jesus: «Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós e o vosso júbilo seja pleno» (v. 11).

É precisamente o amor de Cristo, que o Espírito Santo derrama nos nossos corações, que realiza todos os dias prodígios na Igreja e no mundo. São tantos pequenos e grandes gestos que obedecem ao mandamento do Senhor: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (cf. Jo 15, 12). Gestos pequenos, de todos os dias, gestos de proximidade a um idoso, a um doente, a uma pessoa sozinha e em dificuldade, sem casa, sem trabalho, imigrada, rejeitada… Graças à força desta Palavra de Cristo, cada um de nós pode estar próximo do irmão e da irmã que encontra. Gestos de proximidade. Nestes gestos manifesta-se o amor que Cristo nos ensinou.

Ajude-nos nisto a nossa Mãe Santíssima, para que na vida diária de cada um de nós o amor de Deus e o amor ao próximo estejam sempre presentes.” (Papa Francisco, Angelus, 10 de maio de 2015)

5º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B

 

Cantai ao Senhor um canto novo, porque ele fez maravilhas e revelou sua justiça diante das nações, aleluia! (Sl 97,1s)

 

ORAÇÃO DO DIA

Ó Deus, Pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que creem no Cristo a liberdade verdadeira e a herança eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém. (Oração das Horas)

 

Leituras da Liturgia Eucarística: At 9,26-3; Sl 21; 1Jo 3,18-24; Jo 15,1-8

 

EVANGELHO: Jo 15,1-8

Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei.

Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.

 

REFLEXÃO

“Prezados irmãos e irmãs

O Evangelho de hoje, quinto domingo do Tempo Pascal, abre-se com a imagem da vinha. «Jesus disse aos seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira, e o meu Pai é o agricultor”» (Jo 15, 1). Na Bíblia, Israel é muitas vezes comparado com a vinha fecunda, quando é fiel a Deus; mas, se se afasta d’Ele, torna-se estéril, incapaz de produzir aquele «vinho que alegra o coração do homem», como canta o Salmo 104 (v. 15). A vinha verdadeira de Deus, a videira verdadeira é Jesus que, com o seu sacrifício de amor, nos oferece a salvação, nos abre o caminho para fazermos parte desta vinha. E do mesmo modo como Cristo permanece no amor de Deus Pai, assim também os discípulos, sabiamente podados pela Palavra do Mestre (cf. Jo 15, 2-4), se estiveram unidos de modo profundo a Ele, tornam-se ramos fecundos, que produzem uma colheita abundante. São Francisco de Sales escreve: «O ramo unido e vinculado ao tronco produz fruto não pela sua própria virtude, mas em virtude do cepo: pois bem, nós fomos unidos pela caridade ao nosso Redentor, como os membros à cabeça; eis por que motivo… as boas obras, haurindo o seu valor d’Ele, merecem a vida eterna» (Tratado do amor de Deus, XI, 6, Roma 2011, 601).

No dia do nosso Baptismo, a Igreja enxerta-nos como ramos no Mistério Pascal de Jesus, na sua própria Pessoa. Desta raiz nós recebemos a linfa preciosa para participar na vida divina. Como discípulos, também nós, com a ajuda dos Pastores da Igreja, crescemos na vinha do Senhor, vinculados pelo seu amor. «Se o fruto que devemos produzir é o amor, o seu pressuposto consiste precisamente neste “permanecer”, que tem profundamente a ver com aquela fé que não deixa o Senhor» (Jesus de Nazaré, 2007, 305). É indispensável permanecermos sempre unidos a Jesus, dependermos d’Ele, porque sem Ele nada podemos fazer (cf. Jo 15, 5). Numa carta escrita a João, o Profeta, que viveu no deserto de Gaza no século v, um fiel formula a seguinte pergunta: como é possível manter unidos a liberdade do homem e o facto de nada podemos fazer sem Deus? E o monge responde: se o homem inclina o seu coração para o bem, e pede ajuda a Deus, recebe a força necessária para realizar a própria obra. Por isso, a liberdade do homem e o poder de Deus procedem juntos. Isto é possível, porque o bem provém do Senhor, mas ele é levado a cabo graças aos seus fiéis (cf. Ep. 763, SC 468, Paris 2002, 206). O verdadeiro «permanecer» em Cristo garante a eficácia da oração, como diz o beato cisterciense Guerrico d’Igny: «Ó Senhor Jesus… sem ti nada podemos fazer. Com efeito, Tu és o verdadeiro jardineiro, criador, cultivador e guardião do seu jardim, que plantas com a tua palavra, irrigas com o teu espírito e fazes crescer com o teu poder» (Sermo ad excitandam devotionem in psalmodiaSC 202, 1973, 522).

Estimados amigos, cada um de nós é um ramo, que só vive se fizer crescer cada dia na oração, na participação nos Sacramentos e na caridade a sua união com o Senhor. E quem ama Jesus, videira verdadeira, produz frutos de fé para uma abundante espiritual. Supliquemos à Mãe de Deus, a fim de permanecermos solidamente enxertados em Jesus, e para que cada uma das nossas obras tenha n’Ele o seu início e o seu cumprimento.” (Papa Bento XVI, Angelus, 6 de maio de 2012)