5º DOMINGO QUARESMA – ANO C

 

A mim, ó Deus, fazei justiça, defendei a minha causa contra a gente sem piedade; do homem perverso e traidor libertai-me, porque sois, ó Deus, o meu socorro (Sl 42,1s).

 

ORAÇÃO DO DIA

Senhor nosso Deus, dai-nos, por vossa graça, caminhar com alegria na mesma caridade que levou o vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. (Oração das Horas)

 

Leituras da liturgia eucarística: Is 43,16-21; Sl 125; Fl 3,8-14; Jo 8,1-11

Primeira Leitura (Is 43,16-21)

Leitura do Livro do Profeta Isaías:

16Isto diz o Senhor, que abriu uma passagem no mar e um caminho entre águas impetuosas; 17que pôs a perder carros e cavalos, tropas e homens corajosos; pois estão todos mortos e não ressuscitarão, foram abafados como mecha de pano e apagaram-se: 18’Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. 19Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca. 20Hão de glorificar-me os animais selvagens, os dragões e os avestruzes, porque fiz brotar água no deserto e rios na terra seca para dar de beber a meu povo, a meus escolhidos. 21Este povo, eu o criei para mim e ele cantará meus louvores.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Responsório (Sl 125)

— Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!

— Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!

— Quando o Senhor reconduziu nossos cativos, parecíamos sonhar; encheu-se de sorriso nossa boca, nossos lábios, de canções.

— Entre os gentios se dizia: ‘Maravilhas fez com eles o Senhor!’ Sim, maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!

— Mudai a nossa sorte, ó Senhor, como torrentes no deserto. Os que lançam as sementes entre lágrimas, ceifarão com alegria.

— Chorando de tristeza sairão, espalhando suas sementes; cantando de alegria voltarão, carregando os seus feixes!

 

Segunda Leitura (Fl 3,8-14)

Leitura da Carta de São Paulo aos Filipenses:

Irmãos: 8Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele, 9não com minha justiça provindo da Lei, mas com a justiça por meio da fé em Cristo, a justiça que vem de Deus, na base da fé.

10Esta consiste em conhecer a Cristo, experimentar a força da sua ressurreição, ficar em comunhão com os seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na sua morte, 11para ver se alcanço a ressurreição dentre os mortos. 12Não que já tenha recebido tudo isso, ou que já seja perfeito. Mas corro para alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus. 13Irmãos, eu não julgo já tê-lo alcançado. Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. 14Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Anúncio do Evangelho (Jo 8,1-11)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 1Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. 3Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Colocando a no meio deles, 4disseram a Jesus: ‘Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?’ 6Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. 7Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: ‘Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.’ 8E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. 9E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo. 10Então Jesus se levantou e disse: ‘Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?’ 11Ela respondeu: ‘Ninguém, Senhor.’ Então Jesus lhe disse: ‘Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais’. 

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

 

REFLEXÃO

“Chegamos ao Quinto Domingo da Quaresma, no qual a liturgia nos propõe o episódio evangélico de Jesus que salva uma mulher adúltera da condenação à morte (Jo 8, 1-11).

Enquanto está a ensinar no Templo, os escribas e os fariseus conduzem a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, para a qual a lei mosaica previa a lapidação. Aqueles homens pedem a Jesus que julguem a pecadora com a finalidade de ‘o pôr à prova’ e de o levar a dar um passo falso.

A cena é cheia de dramaticidade: das palavras de Jesus depende a vida daquela pessoa, mas também a sua própria vida. De fato, os acusadores hipócritas fingem confiar-lhe o julgamento, enquanto na realidade é precisamente Ele quem querem acusar e julgar. Ao contrário, Jesus está ‘cheio de graça e de verdade’ (Jo 1, 14): Ele sabe o que está no coração de cada homem, deseja condenar o pecado, mas salvar o pecador, e desmascarar a hipocrisia. O evangelista São João dá realce a um pormenor: enquanto os acusadores o interrogam com insistência, Jesus inclina-se e põe-se a escrever com o dedo no chão. Observa Santo Agostinho que aquele gesto mostra Cristo como o legislador divino: de facto, Deus escreveu a lei com o seu dedo nas tábuas de pedra (cf. Comentário ao Evangelho de João, 33, 5). Portanto Jesus é o Legislador, é a Justiça em pessoa. E qual é a sua sentença? ‘Quem de vós estiver sem pecado seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra’. Essas palavras estão cheias da força desarmante da verdade, que abate o muro da hipocrisia e abre as consciências a uma justiça maior, a do amor, no qual consiste o pleno cumprimento de cada preceito (cf. Rm 13, 8-10). Foi a justiça que salvou também Saulo de Tarso, transformando-o em São Paulo (cf. Fl 3, 8-14).

Quando os acusadores ‘foram saindo um por um, a começar pelos mais velhos’, Jesus, absolvendo a mulher do seu pecado, introduziu-a numa vida nova, orientada para o bem: ‘Nem Eu te condeno; vai e doravante não tornes a pecar’. É a mesma graça que fará dizer ao Apóstolo: ‘Uma coisa faço: esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo em direção à meta, para obter o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus’ (Fl 3, 14). Deus deseja para nós apenas o bem e a vida; Ele provê à saúde da nossa alma por meio dos seus ministros, libertando-nos do mal com o Sacramento da Reconciliação, para que ninguém se perca, mas todos tenham a ocasião de se converter. (…)

Queridos amigos, aprendamos do Senhor Jesus a não julgar e a não condenar o próximo. Aprendamos a ser intransigentes com o pecado – a partir do nosso! – e indulgentes com as pessoas. Ajude-nos nisto a santa Mãe de Deus que, preservada de qualquer culpa, é mediadora de graça para cada pecador arrependido.”  (Papa Bento XVI, Angelus21 de Março de 2010)

4º DOMINGO QUARESMA – ANO C

 

ORAÇÃO DO DIA

Ó Deus, que por vosso Filho realizais, de modo admirável, a reconciliação do gênero humano, concedei ao povo cristão correr ao encontro das festas que se aproximam cheio de fervor e exultando de fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. (Oração das Horas)

 

Alegra-te Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais. Vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações (Is 66,10s).

 

Leituras da liturgia eucarística:Primeira Leitura (Js 5,9a.10-12)

Leitura do Livro de Josué:

Naqueles dias, 9ao Senhor disse a Josué: ‘Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito’. 10Os israelitas ficaram acampados em Guilgal e celebraram a Páscoa no dia catorze do mês, à tarde, na planície de Jericó. 11No dia seguinte à Páscoa comeram dos produtos da terra, pães sem fermento e grãos tostados nesse mesmo dia. 12O maná cessou de cair no dia seguinte, quando comeram dos produtos da terra. Os israelitas não mais tiveram o maná. Naquele ano comeram dos frutos da terra de Canaã.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Salmo (Sl 33)

— Provai e vede quão suave é o Senhor!

— Provai e vede quão suave é o Senhor!

— Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, seu louvor estará sempre em minha boca. Minha alma se gloria no Senhor; que ouçam os humildes e se alegrem!

— Comigo engrandecei ao Senhor Deus, exaltemos todos juntos o seu nome! Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu, e de todos os temores me livrou.

— Contemplai a sua face e alegrai-vos, e vosso rosto não se cubra de vergonha! Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido, e o Senhor o libertou de toda angústia.

 

Segunda Leitura (2Cor 5,17-21)

Leitura da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios:

Irmãos: 7Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo. 18E tudo vem de Deus, que, por Cristo, nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. 19Com efeito, em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo, não imputando aos homens as suas faltas e colocando em nós a palavra da reconciliação. 20Somos, pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. 21Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Anúncio do Evangelho (Lc 15,1-3.11-32)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 1Os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. 2Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. ‘Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles.’ 3Então Jesus contou-lhes esta parábola: 11‘Um homem tinha dois filhos. 12O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. 14Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. 15Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. 16O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. 17Então caiu em si e disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. 18Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: `Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’. 20Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos. 21O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. 22Mas o pai disse aos empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. 23Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. 24Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. 25O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. 26Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. 27O criado respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde’. 28Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. 29Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. 30Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado’. 31Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

 

REFLEXÃO

“Neste quarto domingo de Quaresma é proclamado o Evangelho do pai e dos dois filhos, mais conhecido como a parábola do ‘filho pródigo’ (Lc 15, 11-32). Esta página de São Lucas constitui um vértice da espiritualidade e da literatura de todos os tempos. De facto, o que seria a nossa cultura, a arte, e mais em geral a nossa civilização sem esta revelação de um Deus Pai cheio de misericórdia? Ela nunca cessa de nos comover, e todas as vezes que a ouvimos ou lemos é capaz de nos sugerir sempre novos significados. Sobretudo, este texto evangélico tem o poder de nos falar de Deus, de nos fazer conhecer o seu rosto, melhor ainda, o seu coração. Depois de Jesus nos ter narrado acerca do Pai misericordioso, as coisas já não são como antes, agora conhecemos Deus: Ele é nosso Pai, que por amor nos criou livres e dotados de consciência, que sofre se nos perdemos e faz festa se voltamos. Por isso, a relação com Ele constrói-se através de uma história, analogamente a quanto acontece a cada filho com os próprios pais: no início depende deles; depois reivindica a própria autonomia; e por fim – se há um desenvolvimento positivo –chega a um relacionamento maduro, baseado no reconhecimento e no amor autêntico.

Podemos ler nestas etapas também momentos do caminho do homem na relação com Deus. Pode haver uma fase que é como a infância: uma religião movida pela necessidade, pela dependência. À medida que o homem cresce e se emancipa, quer libertar-se desta submissão e tornar-se livre, adulto, capaz de se regular sozinho e de fazer as próprias escolhas de modo autónomo, pensando até que pode viver sem Deus. Precisamente esta fase é delicada, pode levar ao ateísmo, mas também isto, com frequência, esconde a exigência de descobrir o verdadeiro rosto de Deus. Felizmente, Deus nunca falta à sua fidelidade e, mesmo se nós nos afastamos e nos perdemos, continua a seguir-nos com o seu amor, perdoando os nossos erros e falando interiormente à nossa consciência para nos chamar a si. Na parábola, os dois filhos comportam-se de modo oposto: o menor vai embora de casa e cai muito em baixo, enquanto o maior permanece em casa, mas também ele tem um relacionamento imaturo com o Pai; de facto, quando o irmão volta, o maior não é feliz como o pai, ao contrário irrita-se e não quer entrar em casa. Os dois filhos representam dois modos imaturos de se relacionar com Deus: a rebelião e a hipocrisia. Estas duas formas superam-se através da experiência da misericórdia. Só experimentando o perdão, só nos reconhecendo amados por um amor gratuito, maior do que a nossa miséria, mas também maior do que a nossa justiça, entramos finalmente num relacionamento deveras filial e livre com Deus.

Queridos amigos, meditemos esta parábola. Espelhemo-nos nos dois filhos, e sobretudo contemplemos o coração do Pai. Lancemo-nos nos seus braços e deixemo-nos regenerar pelo seu amor misericordioso. Ajude-nos nisto a Virgem Maria, Mater misericordiae.” (Papa Bento XVI, Angelus14 de Março de 2010)

3º DOMINGO QUARESMA – ANO C

Tenho os olhos sempre fitos no Senhor, porque livra os meus pés da armadilha. Olhai para mim, tende piedade, pois vivo sozinho e infeliz (Sl 24,15s).

 

ORAÇÃO DO DIA

Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão da nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. (Oração das Horas)

 

Leituras da liturgia eucarística: 

Primeira Leitura (Êx 3,1-8a.13-15)

Leitura do Livro do Êxodo:

Naqueles dias, 1Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Levou, um dia, o rebanho deserto adentro e chegou ao monte de Deus, o Horeb.

2Apareceu-lhe o anjo do Senhor numa chama de fogo, do meio de uma sarça. Moisés notou que a sarça estava em chamas, mas não se consumia, e disse consigo: 3“Vou aproximar-me desta visão extraordinária, para ver por que a sarça não se consome”.

4O Senhor viu que Moisés se aproximava para observar e chamou-o do meio da sarça, dizendo: “Moisés! Moisés!” Ele respondeu: “Aqui estou”.

5E Deus disse: “Não te aproximes! Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é uma terra santa”.

6E acrescentou: “Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”.

Moisés cobriu o rosto, pois temia olhar para Deus.

7E o Senhor lhe disse: “Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi o seu clamor por causa da dureza de seus opressores. Sim, conheço os seus sofrimentos. 8aDesci para libertá-los das mãos dos egípcios, e fazê-los sair daquele país para uma terra boa e espaçosa, uma terra onde corre leite e mel”.

13Moisés disse a Deus: “Sim, eu irei aos filhos de Israel e lhes direi: ‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’. Mas, se eles perguntarem: ‘Qual é o seu nome?’, o que lhes devo responder?”

14Deus disse a Moisés: “Eu Sou aquele que sou”. E acrescentou: “Assim responderás aos filhos de Israel: ‘Eu Sou’ enviou-me a vós’”.15E Deus disse ainda a Moisés: “Assim dirás aos filhos de Israel: ‘O Senhor, o Deus de vossos Pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó enviou-me a vós’. Este é o meu nome para sempre, e assim serei lembrado de geração em geração”.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Responsório (Sl 102)

— O Senhor é bondoso e compassivo.

— O Senhor é bondoso e compassivo.

— Bendize, ó minha alma, ao Senhor,/ e todo o meu ser, seu santo nome!/ Bendize, ó minha alma, ao Senhor,/ não te esqueças de nenhum de seus favores!

— Pois ele te perdoa toda culpa,/ e cura toda a tua enfermidade;/ da sepultura ele salva a tua vida/ e te cerca de carinho e compaixão.

— O Senhor é indulgente, é favorável,/ é paciente, é bondoso e compassivo./ Quanto os céus por sobre a terra se elevam,/ tanto é grande o seu amor aos que o temem.

 

Segunda Leitura (1Cor 10,1-6.10-12)

Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios:

1Irmãos, não quero que ignoreis o seguinte: Os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar; 2todos foram batizados em Moisés, sob a nuvem e pelo mar; 3e todos comeram do mesmo alimento espiritual, 4e todos beberam da mesma bebida espiritual; de fato, bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava — e esse rochedo era Cristo —.5No entanto, a maior parte deles desagradou a Deus, pois morreram e ficaram no deserto.

6Esses fatos aconteceram para serem exemplos para nós, a fim de que não desejemos coisas más, como fizeram aqueles no deserto. 10Não murmureis, como alguns deles murmuraram, e, por isso, foram mortos pelo anjo exterminador. 12Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Anúncio do Evangelho (Lc 13,1-9)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.

— Glória a vós, Senhor.

1Naquele tempo, vieram algumas pessoas trazendo notícias a Jesus a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado, misturando seu sangue com o dos sacrifícios que ofereciam.

2Jesus lhes respondeu: “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? 3Eu vos digo que não. Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo.

4E aqueles dezoito que morreram, quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? 5Eu vos digo que não. Mas, se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”.

6E Jesus contou esta parábola: “Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou. 7Então disse ao vinhateiro: ‘Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?’

8Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. 9Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás’”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor. 

 

REFLEXÃO

“A liturgia deste terceiro domingo de Quaresma apresenta-nos o tema da conversão. Na primeira leitura, tirada do Livro do Êxodo, Moisés, enquanto apascenta o rebanho, vê uma sarça em chamas, mas que não se consome. Aproxima-se para observar este prodígio, quando uma voz o chama pelo nome e, convidando-o a tomar consciência da sua indignidade, ordena-lhe que tire as sandálias, porque aquele lugar é santo. “Eu sou o Deus de teu pai – diz-lhe a voz – o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob”; e acrescenta:  ‘Eu sou Aquele que sou!’ (Êx 3, 6.14). Deus manifesta-se de diversos modos também na vida de cada um de nós. Para poder reconhecer a sua presença contudo é necessário que nos aproximemos dele conscientes da nossa miséria e com profundo respeito. Diversamente tornamo-nos incapazes de o encontrar e de entrar em comunhão com Ele. Como escreve o apóstolo Paulo, também esta vicissitude é narrada para nossa admoestação:  ela recorda-nos que Deus revela não a quantos estão imbuídos de suficiência e facilidade, mas a quem é pobre e humilde diante d’Ele.

No trecho do Evangelho de hoje, Jesus é interpelado sobre alguns fatos dolorosos:  a morte, dentro do templo, de alguns Galileus por ordem de Pôncio Pilatos e o desabar da torre sobre alguns viandantes (cf. Lc 13, 1-5). Diante da fácil conclusão de considerar o mal como efeito da punição divina, Jesus restitui a verdadeira imagem de Deus, que é bom e não pode desejar o mal, e advertindo contra o pensar que as desventuras sejam o efeito imediato das culpas pessoais de quem as sofre, afirma:  ‘Julgais que estes Galileus eram maiores pecadores que todos os outros galileus, por terem assim sofrido? Não, digo-vo-lo Eu; mas, se não vos arrependerdes, perecereis todos igualmente’ (Lc 13, 2-3). Jesus convida a fazer uma leitura diversa daqueles fatos, colocando-os na perspectiva da conversão:  as desventuras, os acontecimentos dolorosos não devem suscitar em nós curiosidade ou busca de presumíveis culpados, mas devem representar ocasiões para refletir, para vencer a ilusão de poder viver sem Deus e para fortalecer, com a ajuda do Senhor, o compromisso de mudar de vida. Face ao pecado, Deus revela-se cheio de misericórdia e não deixa de recordar aos pecadores que evitem o mal, cresçam no seu amor e ajudem concretamente o próximo em necessidade, para viver a alegria da graça e não ir ao encontro da morte eterna. Mas a possibilidade de conversão exige que aprendamos a ler os acontecimentos da vida na perspectiva da fé, isto é, animados pelo santo temor de Deus. Na presença de sofrimentos e lutos, verdadeira sabedoria é deixar-se interpelar pela precariedade da existência e ler a história humana com o olhar de Deus, o qual, querendo sempre e só o bem dos seus filhos, por um desígnio imperscrutável do seu amor, por vezes permite que sejam provados pelo sofrimento para os conduzir a um bem maior.

Queridos amigos, rezemos a Maria Santíssima, que nos acompanha no itinerário quaresmal, para que ajude cada cristão a voltar para o Senhor com todo o coração. Ampare a nossa decisão firme de renunciar ao mal e de aceitar com fé a vontade de Deus na nossa vida.” (Papa Bento XVI, Angelus7 de Março de 2010)