O BATISMO DO SENHOR – ANO A

“Batizado o Senhor, os céus se abriram e o Espírito Santo pairou sobre ele sob forma de pomba. E a voz do Pai se fez ouvir: Este é o meu filho muito amado, nele está todo o meu amor!” Mt 3,16s

ORAÇÃO DO DIA

“Deus eterno e todo-poderoso, que, sendo Cristo batizado no Jordão e pairando sobre ele o Espírito Santo, o Declaraste solenemente vosso Filho, concedei aos vossos filhos adotivos, renascidos da água e do Espírito Santo, perseverar constantemente em vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.” LH

Primeira Leitura (Is 42,1-4.6-7)

Leitura do Livro do profeta Isaías:

Assim fala o Senhor: 1“Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minh’alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações. 2Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. 3Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade. 4Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos. 6Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, 7para abrires os olhos dos cegos, tirares os cativos da prisão, livrares do cárcere os que vivem nas trevas”.

Salmo Responsorial (Sl 28)

— Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!

— Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!

— Filhos de Deus, tributai ao Senhor,/ tributai-lhe a glória e o poder!/ Dai-lhe a glória devida ao seu nome;/ adorai-o com santo ornamento!

— Eis a voz do Senhor sobre as águas,/ sua voz sobre as águas imensas!/ Eis a voz do Senhor com poder!/ Eis a voz do Senhor majestosa!

— Sua voz no trovão reboando!/ No seu templo os fiéis bradam: “Glória!”/ É o Senhor que domina os dilúvios,/ o Senhor reinará para sempre!

Segunda Leitura (At 10,34-38)

Leitura dos Atos dos Apóstolos:

Naqueles dias, 34Pedro tomou a palavra e disse: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. 35Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença. 36Deus enviou sua palavra aos israelitas e lhes anunciou a Boa-nova da paz, por meio de Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. 37Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo pregado por João: 38como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele”.

Evangelho (Mt 3,13-17)

Naquele tempo, 13Jesus veio da Galileia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele. 14Mas João protestou, dizendo: “Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?”

15Jesus, porém, respondeu-lhe: “Por enquanto deixa como está, porque nós devemos cumprir toda a justiça!” E João concordou. 16Depois de ser batizado, Jesus saiu logo da água. Então o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e vindo pousar sobre ele.

17E do céu veio uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

 

REFLEXÃO

«Com este domingo depois da Epifania termina o Tempo litúrgico do Natal: tempo de luz, a luz de Cristo que, como novo sol que despontou no horizonte da humanidade, dissipa as trevas do mal e da ignorância. Hoje celebramos a festa do Batismo de Jesus: aquele Menino, filho da Virgem, que contemplamos no mistério do seu nascimento, vemo-lo hoje adulto, mergulhar nas águas do rio Jordão e assim santificar todas as águas e o cosmos inteiro — como põe em evidência a tradição oriental. Mas por que motivo Jesus, em quem não havia sombra de pecado, desejou ser batizado por João? Por que quis realizar aquele gesto de penitência e conversão, juntamente com numerosas pessoas que deste modo queriam preparar-se para a vinda do Messias? Aquele gesto — que marca o início da vida pública de Cristo, como testemunham todos os evangelistas — coloca-se na mesma linha da Encarnação, da descida de Deus do mais alto dos céus, até ao abismo da mansão dos mortos. O sentido deste movimento de humilhação divina resume-se com uma única palavra: Amor, que é o nome do próprio Deus. O apóstolo João escreve: “Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por ele», e enviou-o «para expiar os nossos pecados” (1 Jo 4, 9-10). Eis porque o primeiro gesto público de Jesus consistiu em receber o batismo de João que, ao vê-lo chegar, disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29).

O evangelista Lucas narra que enquanto Jesus, depois de ter recebido o batismo, ‘estando ainda a orar, o Céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba; e do Céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus todo o meu enlevo’ ” (3, 21-22). Este Jesus é o Filho de Deus, totalmente imerso na vontade de amor do Pai. Este Jesus é Aquele que morrerá na cruz e ressuscitará pelo poder do mesmo Espírito que agora desce sobre Ele e O consagra. Este Jesus é o homem novo que quer viver como Filho de Deus, ou seja, no amor; o homem que, diante do mal do mundo, escolhe o caminho da humildade e da responsabilidade, não prefere salvar-se a si mesmo, mas oferecer a própria vida pela verdade e pela justiça. Ser cristão significa viver assim, mas este gênero de vida comporta um renascimento: renascer do alto, de Deus, da Graça. Este renascimento é o Batismo, que Cristo concedeu à Igreja a fim de regenerar os homens para uma vida nova. Afirma um antigo texto atribuído a santo Hipólito: “Quem desce com fé neste lavacro de regeneração, renuncia ao demônio e põe-se ao lado de Cristo, renega o inimigo e reconhece que Cristo é Deus, despoja-se da escravidão e reveste-se da adoção filial”» (Discurso sobre a Epifania, 10: p. 10, 862). (Papa Emérito Bento XVI, Angelus, 13 de janeiro de 2013)

EPIFANIA DO SENHOR

As nações de toda a terra hão de adorar-vos, ó Senhor! (Sl 71)

ORAÇÃO

Ó Deus, que hoje revelastes o vosso Filho às nações, guiando-as pela estrela, concedei aos vossos servos, que já vos conhecem pela fé, contemplar-vos um dia face a face no céu. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém! (Oração das Horas)

Leituras da liturgia eucarística: 

 

Primeira Leitura (Is 60,1-6)

Leitura do Livro do profeta Isaías:

1Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor. 2Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. 3Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora. 4Levanta os olhos ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti; teus filhos vêm chegando de longe com tuas filhas, carregadas nos braços. 5Ao vê-los, ficarás radiante, com o coração vibrando e batendo forte, pois com eles virão as riquezas de além-mar e mostrarão o poderio de suas nações; 6será uma inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir; virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor.

 

Salmo Responsorial (Sl 71)

— As nações de toda a terra hão de adorar-vos, ó Senhor!

— Dai ao Rei vossos poderes, Senhor Deus,/ vossa justiça ao descendente da realeza!/ Com justiça ele governe o vosso povo,/ com equidade ele julgue os vossos pobres.

— Nos seus dias a justiça florirá e grande paz,/ até que a lua perca o brilho!/ De mar a mar estenderá o seu domínio,/ e desde o rio até os confins de toda a terra!

— Os reis de Társis e das ilhas hão de vir/ e oferecer-lhe seus presentes e seus dons;/ e também os reis de Seba e de Sabá/ hão de trazer-lhe oferendas e tributos./ Os reis de toda a terra hão de adorá-lo,/ e todas as nações hão de servi-lo.

— Libertará o indigente que suplica,/ e o pobre ao qual ninguém quer ajudar./ Terá pena do indigente e do infeliz,/ e a vida dos humildes salvará.

 

Segunda Leitura (Ef 3,2-3a.5-6)

Leitura da Carta de São Paulo aos Efésios:

Irmãos: 2Se ao menos soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a vosso respeito, 3ae como, por revelação, tive conhecimento do mistério. 5Este mistério Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: 6os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho.

Anúncio do Evangelho (Mt 2,1-12)

1Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, 2perguntando: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.

3Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém. 4Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei4, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. 5Eles responderam: “Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”.

7Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. 8Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”.

9Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. 10Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. 11Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. 12Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.

REFLEXÃO

  1. «A luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a admitiram» (Jo 1, 5).

A inteira Liturgia de hoje fala da luz de Cristo, daquela luz que se acendeu na Noite Santa. A mesma luz que conduziu os pastores à gruta de Belém indica o caminho, no dia da Epifania, aos Magos que vieram do Oriente para adorar o Rei dos Judeus, e brilha para todos os homens e povos que aspiram a encontrar Deus.

Na sua busca espiritual, o ser humano já dispõe naturalmente de uma luz que o guia: é a razão, graças à qual mesmo tacteando ele pode orientar-se (cf. Act 17, 27), para o seu Criador. Mas dado que é fácil perder o caminho, Deus mesmo lhe veio em socorro com a luz da revelação, que alcançou a sua plenitude na encarnação do Verbo, eterna Palavra de verdade.

A Epifania celebra o aparecimento desta Luz divina no mundo, com a qual Deus Se encontrou com a fraca chama da razão humana. Na solenidade hodierna é proposta assim a íntima relação que se interpõe entre razão e fé, as duas asas de que dispõe o espírito humano para se elevar rumo à contemplação da verdade, como recordei na recente Encíclica Fides et ratio.

  1. Cristo não é só luz que ilumina o caminho do homem. Ele fez-Se também caminho para os seus passos incertos rumo a Deus, fonte da vida. Um dia, Ele dirá aos Apóstolos: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim. Se vós Me conhecêsseis, também conheceríeis Meu Pai; desde agora O conheceis e O tendes visto» (Jo14, 6-7). E, diante da objecção de Filipe, acrescentará: «Quem Me vê, vê o Pai… Eu estou no Pai e o Pai está em Mim» (ibid., vv. 9.11). A epifania do Filho é a epifania do Pai.

Não é talvez este, em definitivo, o objetivo da vinda de Cristo ao mundo? Ele mesmo declarou que tinha vindo para «fazer conhecer o Pai», para «explicar» aos homens quem é Deus, para revelar o Seu rosto, o Seu «nome» (ibid. 17, 3). No encontro com o Pai consiste a vida eterna (cf. ibid. 17, 3). Como é oportuna, portanto, esta reflexão, especialmente no ano dedicado ao Pai!

[…]

Vinde, adoremos! Amém. (Papa João Paulo II, Homilia de 06 de janeiro de 1999)

24 DE DEZEMBRO NOITE – NATAL DO SENHOR

“Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o Salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz!”

Sl 2,7

 

ORAÇÃO

Ó Deus, que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz, concedei que, tendo vislumbrado na terra este mistério, possamos gozar no céu sua plenitude. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. LH

 

Leituras da liturgia eucarística:  

Primeira Leitura (Is 9,1-6)

Leitura do Livro do Profeta Isaías:

1O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu.

2Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade; todos se regozijam em tua presença, como alegres ceifeiros na colheita, ou como exaltados guerreiros ao dividirem os despojos.

3Pois o jugo que oprimia o povo, — a carga sobre os ombros, o orgulho dos fiscais — tu os abateste como na jornada de Madiã.

4Botas de tropa de assalto, trajes manchados de sangue, tudo será queimado e devorado pelas chamas.

5Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz.

6Grande será o seu reino e a paz não há de ter fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reinado, que ele irá consolidar e confirmar em justiça e santidade, a partir de agora e para todo o sempre. O amor zeloso do Senhor dos exércitos há de realizar estas coisas.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

Salmo Responsorial (Sl 95)

— Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor.

— Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor.

— Cantai ao Senhor Deus um canto novo,/ cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira!/ Cantai e bendizei seu santo nome!

— Dia após dia anunciai sua salvação,/ manifestai a sua glória entre as nações,/ e entre os povos do universo seus prodígios!

— O céu se rejubile e exulte a terra,/ aplauda o mar com o que vive em suas águas;/ os campos com seus frutos rejubilem/ e exultem as florestas e as matas

— na presença do Senhor, pois ele vem,/ porque vem para julgar a terra inteira./ Governará o mundo com justiça,/ e os povos julgará com lealdade.

 

Segunda Leitura (Tt 2,11-14)

Leitura da Carta de São Paulo a Tito:

Caríssimo: 11A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens. 12Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade, 13aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo.

14Ele se entregou por nós, para nos resgatar de toda maldade e purificar para si um povo que lhe pertença e que se dedique a praticar o bem.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Evangelho (Lc 2,1-14)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.

— Glória a vós, Senhor.

1Aconteceu que, naqueles dias, César Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento de toda a terra.

2Este primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria. 3Todos iam registrar-se cada um na sua cidade natal.

4Por ser da família e descendência de Davi, José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até a cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia, 5para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.

6Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, 7e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria.

8Naquela região havia pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do seu rebanho.

9Um anjo do Senhor apareceu aos pastores, a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. 10O anjo, porém, disse aos pastores: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: 11Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. 12Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura”.

13E, de repente, juntou-se ao anjo uma multidão da coorte celeste. Cantavam louvores a Deus, dizendo: 14“Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

 

REFLEXÃO

HOMILIA DO DO PAPA JOÃO PAULO II

Natal, 24 de Dezembro de 2001 

1. «Populus qui ambulabat in tenebris, vidit lucem magnam – O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9, 1).

Todos os anos ouvimos estas palavras do profeta Isaías, no âmbito sugestivo da comemoração litúrgica do nascimento de Cristo. De ano para ano, elas assumem um novo sabor e fazem reviver o clima de expectativa e esperança, de assombro e júbilo, que é típico do Natal.

Ao povo oprimido e atribulado que andava nas trevas, apareceu «uma grande luz». Sim, uma luz verdadeiramente «grande», pois a que irradia da humildade do presépio é a luz da nova criação. Se a primeira criação começou com a luz (cf. Gn 1, 3), muito mais luminosa e «grande» há-de ser a luz que dá início à nova criação: é o próprio Deus feito homem!

O Natal é acontecimento de luz, é a festa da luz: no Menino de Belém, a luz primordial volta a resplandecer no céu da humanidade e dissipa as nuvens do pecado. O fulgor do triunfo definitivo de Deus aparece no horizonte da história para propor aos homens em caminho um novo futuro de esperança.

2. «Para os que habitavam na terra da escuridão uma luz começou a brilhar» (Is 9, 1).

O anúncio jubiloso, proclamado há pouco na nossa assembleia, vale também para nós, homens e mulheres do alvorecer do terceiro milénio. A comunidade dos crentes reúne-se em oração para de novo o escutar em todas as regiões do mundo. No meio do frio e da neve do inverno ou no calor tórrido dos trópicos, esta noite é Noite santa para todos.

Após longa espera, irrompe finalmente o esplendor do Dia novo. Nasceu o Messias, o Emanuel, Deus connosco! Nasceu Aquele que foi preanunciado pelos profetas e longamente invocado por aqueles que «andavam nas trevas». No silêncio e na escuridão da noite, a luz faz-se palavra e mensagem de esperança.

Mas porventura não contrasta esta certeza de fé com a realidade histórica em que vivemos? Diante dos factos inumanos que ouvimos nos noticiários, esta palavra de luz e de esperança parece um sonho. Mas é nisto mesmo que se encerra o desafio da fé, tornando este anúncio simultaneamente consolador e exigente. A fé faz-nos sentir envolvidos pela ternura amorosa de Deus e ao mesmo tempo empenha-nos activamente no amor de Deus e dos irmãos.

3. «Manifestou-se a graça de Deus, que traz a salvação para todos os homens» (Tt 2, 11).

Neste Natal, os nossos corações estão preocupados e inquietos com a persistência, em diversas regiões do mundo, da guerra, das tensões sociais, das penosas carências em que vivem tantos seres humanos. Todos procuramos uma resposta que nos tranquilize.

A página que acabámos de ouvir da Carta de Tito recorda-nos que o nascimento do Filho unigénito do Pai «traz a salvação» a todos os ângulos da terra e em todos os momentos da história. Para todo o homem e mulher, nasce o Menino que tem «o seguinte nome: Conselheiro admirável! Deus valoroso! Pai para sempre! Príncipe da paz!» (Is 9, 5). Ele traz consigo a resposta que nos pode tranquilizar dos nossos temores e dar novamente vigor às nossas esperanças.

Sim, nesta noite evocadora de memórias sacrossantas, torna-se mais firme a nossa confiança na força redentora da Palavra feita carne. Quando as trevas e o mal parecem prevalecer, Cristo repete-nos: Não temais! Com a sua vinda ao mundo, Ele derrotou o poderio do mal, libertou-nos da escravidão da morte e readmitiu-nos ao banquete da vida.

Cabe a nós enchermo-nos da força do seu amor vitorioso, assumindo a sua lógica de serviço e humildade. Cada um de nós é chamado a vencer, com Ele, «o mistério da iniquidade», tornando-nos testemunhas de solidariedade e construtores de paz. Vamos, pois, à gruta de Belém para O encontrar a Ele, mas também para, n’Ele, encontrar toda a criança do mundo, todo o irmão chagado no corpo ou oprimido no espírito.

4. Os pastores, «assim que O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino» (Lc 2,17).

À semelhança dos pastores, também nós, nesta noite extraordinária, não podemos deixar de sentir o desejo de comunicar aos outros a alegria do encontro com este «Menino envolto em panos», no Qual se manifesta a força salvadora do Omnipotente. Não podemos contentar-nos com a contemplação extasiada do Messias que jaz na manjedoira, esquecendo o dever que temos de dar testemunho d’Ele.

Devemos retomar rapidamente o nosso caminho. Devemos sair jubilosos da gruta de Belém, para referir por todo o lado o prodígio de que fomos testemunhas. Encontrámos a luz e a vida! N’Ele, foi-nos dado o amor!

5. «Um Menino nasceu para nós…» (Is 9, 5).

Nós Vos acolhemos com alegria, Senhor Omnipotente do céu e da terra que, por amor, Vos fizestes Menino «na Judeia, na cidade de David chamada Belém» (Lc 2, 4).

Acolhemos-Vos, agradecidos, ó Luz nova que despontais na noite do mundo.

Acolhemo-Vos como nosso irmão, «Príncipe da Paz» que «de dois povos fizestes um só» (cf. Ef 2, 14).

Enchei-nos dos vossos dons, Vós que não desdenhastes de iniciar a vida humana como nós. Fazei-nos filhos de Deus, Vós que, por nós, quisestes tornar-Vos filho do homem (cf. Santo Agostinho, Sermões, 184).

Vós, «Conselheiro admirável», promessa segura de paz; Vós, presença eficaz do «Deus valoroso»; Vós, o nosso único Deus, que jazeis pobre e humilde na sombra do presépio, acolhei-nos junto do vosso berço.

Vinde, povos da terra e abri-Lhe as portas da vossa história! Vinde adorar o Filho da Virgem Maria, descido entre nós nesta noite, desde há séculos preparada.

Noite de alegria e de luz.

Venite, adoremus!