SOLENIDADE DE PENTECOSTES

Vide, Espírito Santo, e enchei com vossos dons os corações dos fiéis; e acendei neles o amor, como um fogo abrasador!

ORAÇÃO DO DIA

Deus eterno e todo-poderoso, quisestes que o mistério pascal se completasse durante cinquenta dias, até à vinda do Espírito Santo. Fazei que todas as nações dispersas pela terra, na diversidade de suas línguas, se unam no louvor do vosso nome. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Primeira Leitura (At 2,1-11)

Leitura dos Atos dos Apóstolos:

1Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. 3Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. 4Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. 5Moravam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. 6Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. 7Cheios de espanto e admiração, diziam: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? 8Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? 9Nós, que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; 11judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus em nossa própria língua!”

Responsório (Sl 103)

— Enviai o vosso Espírito, Senhor,/ e da terra toda a face renovai!

— Enviai o vosso Espírito, Senhor,/ e da terra toda a face renovai!

— Bendize, ó minha alma, ao Senhor!/ Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande!/ Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras!/ Encheu-se a terra com as vossas criaturas!

— Se tirais o seu respiro, elas perecem/ e voltam para o pó de onde vieram./ Enviais o vosso espírito e renascem/ e da terra toda a face renovais.

— Que a glória do Senhor perdure sempre,/ e alegre-se o Senhor em suas obras!/ Hoje seja-lhe agradável o meu canto,/ pois o Senhor é a minha grande alegria!

Segunda Leitura  (1Cor 12,3b-7.12-13)

Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios:

Irmãos: 3bNinguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo. 4Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. 5Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. 6Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. 7A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. 12Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo. 13De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito.

Evangelho (Jo 20.19-23)

19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. 21Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. 22E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”.

REFLEXÃO

Basílica de São Pedro
Domingo, 31 de Maio de 2009

Cada vez que celebramos a Eucaristia, vivemos na fé o mistério que se realiza no altar, ou seja, participamos no supremo gesto de amor que Cristo realizou com a sua morte e ressurreição. O único e idêntico centro da liturgia e da vida cristã — o mistério pascal — adquire então, nas diversas solenidades e festas, “formas” específicas, com ulteriores significados e com particulares dons da graça. Entre todas as solenidades, o Pentecostes distingue-se por importância, porque nela se verifica aquilo que o próprio Jesus anunciara como a finalidade de toda a sua missão na terra. Com efeito, enquanto subia para Jerusalém, declarara aos discípulos: “Vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu, senão que ele já tenha sido ateado?” (Lc 12, 49). Estas palavras encontram a sua mais evidente realização cinquenta dias depois da ressurreição, no Pentecostes, antiga festa judaica que na Igreja se tornou a festividade por excelência do Espírito Santo: “Viram, então, aparecer umas línguas de fogo… e todos ficaram cheios de Espírito Santo” (Act 2, 3-4). O verdadeiro fogo, o Espírito Santo, foi trazido sobre a terra por Cristo. Ele não o arrebatou dos deuses, como fez Prometeu segundo o mito grego, mas fez-se mediador do “dom de Deus”, obtendo-o para nós com o maior gesto de amor da história: a sua morte na cruz.

Deus quer continuar a doar este “fogo” a cada geração humana e, naturalmente, é livre de o fazer como e quando o quer. Ele é espírito, e o espírito “sopra onde quer” (cf. Jo 3, 8). Porém, existe um “caminho normal” que o próprio Deus escolheu para “lançar fogo sobre a terra”: este caminho é Jesus, o seu Filho Unigénito encarnado, morto e ressuscitado. Por sua vez, Jesus Cristo constituiu a Igreja como o seu Corpo místico, para que prolongue a sua missão na história. “Recebei o Espírito Santo” — disse o Senhor aos Apóstolos, na tarde da ressurreição, acompanhando estas palavras com um gesto compreensivo: “soprou” sobre eles (cf. Jo 20, 22). Assim, manifestou que lhes transmitia o seu Espírito, o Espírito do Pai e do Filho. Agora, caros irmãos e irmãs, na hodierna solenidade a Escritura diz-nos mais uma vez como deve ser a comunidade, como devemos ser nós para receber o dom do Espírito Santo. Na narração, que descreve o acontecimento do Pentecostes, o Autor sagrado recorda que os discípulos “se encontravam todos reunidos no mesmo lugar”. Este “lugar” é o Cenáculo, a “sala no andar de cima” onde Jesus realizara a última Ceia com os seus Apóstolos, onde lhes aparecera ressuscitado; aquela sala que se tinha tornado, por assim dizer, a “sede” da Igreja nascente (cf. Act 1, 13). Todavia, mais do que insistir sobre o lugar físico, os Actos dos Apóstolos tencionam acentuar a atitude interior dos discípulos: “Todos, unidos pelo mesmo sentimento, se entregavam assiduamente à oração” (Act 1, 14). Por conseguinte, a concórdia dos discípulos é a condição para que venha o Espírito Santo; e a condição prévia da concórdia é a oração.

Queridos irmãos e irmãs, isto é válido também para a Igreja de hoje, é válido para nós que estamos aqui congregados. Se quisermos que o Pentecostes não se reduza a um simples rito ou a uma comemoração até muito sugestiva, mas seja um acontecimento actual de salvação, temos que nos predispor em expectativa religiosa do dom de Deus, mediante a escuta humilde e silenciosa da sua Palavra. A fim de que o Pentecostes se renove no nosso tempo, talvez seja necessário — sem nada tirar à liberdade de Deus — que a Igreja esteja menos “angustiada” com as actividades e mais dedicada à oração. É quanto nos ensina a Mãe da Igreja, Maria Santíssima, Esposa do Espírito Santo. Este ano o Pentecostes é celebrado precisamente no último dia de Maio, em que habitualmente se comemora a festa da Visitação. Também ela foi uma espécie de pequeno “pentecostes”, que fez jorrar a alegria e o louvor dos corações de Isabel e de Maria, uma estéril e a outra virgem, e ambas se tornaram mães graças à extraordinária intervenção divina (cf. Lc 1, 41-45). A música e o canto, que acompanham esta nossa liturgia, ajudam-nos também eles a sermos concordes na oração, e por isso exprimo o profundo reconhecimento ao Coro da Catedral e à Kammerorchester de Köln. Com efeito, para esta liturgia, no bicentenário da morte de Joseph Haydn, foi escolhida muito oportunamente a sua Harmoniemesse, a última “Missa” composta pelo grande músico, uma sublime sinfonia para a glória de Deus. A todos vós que viestes para esta circunstância, dirijo a minha saudação mais cordial.

Para indicar o Espírito Santo, na narração do Pentecostes os Actos dos Apóstolos recorrem a duas imagens principais: a imagem da tempestade e do fogo. Claramente, São Lucas tem em mente a teofania do Sinai, descrita nos livros do Êxodo (cf. 19, 16-19) e do Deuteronómio (cf. 4, 10-12.36). No mundo antigo, a tempestade era vista como um sinal do poder divino, em cuja presença o homem se sentia subjugado e terrorizado, mas gostaria de sublinhar também mais um aspecto: a tempestade é descrita como “vento impetuoso”, e isto faz pensar no ar, que distingue o nosso planeta dos outros astros e nos permite viver nele. O que o ar é para a vida biológica, o Espírito Santo é para a vida espiritual; e dado que existe uma poluição atmosférica que envenena o ambiente e os seres vivos, assim há também uma poluição do coração e do espírito, que mortifica e envenena a existência espiritual. Do mesmo modo como não podemos habituar-nos aos venenos do ar — e por isso o compromisso ecológico representa hoje em dia uma prioridade — da mesma forma deveríamos agir com relação àquilo que corrompe o espírito. No entanto, parece que a muitos produtos que poluem a mente e o coração, e que circulam nas nossas sociedades por exemplo, as imagens que espectacularizam o prazer, a violência e o desprezo pelo homem e pela mulher a isto parece que nos habituamos sem dificuldades. Também isto é liberdade, diz-se, sem reconhecer que tudo aquilo que polui, intoxica a alma principalmente das novas gerações e acaba por condicionar a sua própria liberdade. A metáfora do vento impetuoso do Pentecostes faz pensar no modo como, ao contrário, é precioso respirar o ar puro, quer com os pulmões, o ar físico, quer com o coração, o ar espiritual, o ar salubre do espírito que é a caridade!

A outra imagem do Espírito Santo que encontramos nos Actos dos Apóstolos é o fogo. No início mencionei o confronto entre Jesus e a figura mitológica de Prometeu, que evoca um aspecto característico do homem moderno. Apropriando-se das energias do cosmos — o “fogo” — hoje o ser humano parece afirmar-se como deus e desejar transformar o mundo excluindo, pondo de lado ou até rejeitando o Criador do universo. O homem já não quer ser imagem de Deus, mas de si mesmo; declara-se autónomo, livre e adulto. Evidentemente, tal atitude revela uma relação não autêntica com Deus, consequência de uma imagem falsa que se constrói dele, como o filho pródigo da parábola evangélica que pensa em realizar-se a si mesmo, afastando-se da casa do pai. Nas mãos de um homem assim, o “fogo” e as suas enormes potencialidades tornam-se perigosos: podem voltar-se contra a vida e contra a própria humanidade, como demonstra a história. Como perene admoestação permanecem as tragédias de Hiroxima e Nagasáqui, onde a energia atómica, utilizada para finalidades bélicas, semeou morte em proporções inauditas.

Na verdade, poder-se-iam encontrar muitos exemplos, menos graves e no entanto igualmente sintomáticos, na realidade de todos os dias. A Sagrada Escritura revela-nos que a energia capaz de mover o mundo não é uma força anónima e cega, mas a acção do “espírito de Deus que se movia sobre a superfície das águas” (Gn 1, 2) no início da criação. E Jesus Cristo “trouxe à terra” não a força vital, que já habitava nela, mas o Espírito Santo, ou seja, o amor de Deus que “renova a face da terra”, purificando-a do mal e libertando-a do domínio da morte (cf. Sl 103 [104], 29-30). Este “fogo” puro, essencial e pessoal, o fogo do amor, desceu sobre os Apóstolos, reunidos em oração com Maria no Cenáculo, para fazer da Igreja o prolongamento da obra renovadora de Cristo.

Finalmente, ainda se tira um último pensamento da narração dos Actos dos Apóstolos: o Espírito Santo vence o medo. Sabemos como os discípulos se tinham refugiado no Cenáculo depois do aprisionamento do seu Mestre e aí permaneceram segregados com o temor de padecer a mesma sorte. Depois da ressurreição de Jesus, este seu medo não desapareceu repentinamente. Mas eis que no Pentecostes, quando o Espírito Santo pairou sobre eles, os homens saíram sem temor e começaram a anunciar a todos a boa notícia de Cristo crucificado e ressuscitado. Não tinham medo algum, porque se sentiam nas mãos do mais forte. Sim, queridos irmãos e irmãs, onde entra, o Espírito de Deus afasta o medo; faz-nos conhecer e sentir que estamos nas mãos de uma Omnipotência de amor: independentemente do que acontece, o seu amor infinito não nos abandona. Demonstram-no o testemunho dos mártires, a coragem dos confessores da fé, o impulso intrépido dos missionários, a sinceridade dos pregadores e o exemplo dos missionários, alguns dos quais são inclusive adolescentes e crianças. Demonstra-o a própria existência da Igreja que, não obstante os limites e as culpas dos homens, continua a atravessar o oceano da história, impelida pelo sopro do Espírito e animada pelo seu fogo purificador. Com esta fé e esta esperança jubilosa repitamos no dia de hoje, por intercessão de Maria: “Enviai o vosso Espírito, Senhor, para renovar a face da terra!”. (Papa Bento XVI, Homilia de 31 de maio de 2009)

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO – ANO C

“O cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A ele glória e poder através dos séculos.” Ap 5,12; 1,6

 

ORAÇÃO DO DIA

Deus eterno e todo-poderoso, que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, rei do universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, vos glorifiquem eternamente. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. (Oração das Horas)

 

Leituras da liturgia eucarística: 2Sm 5,1-3; Sl 121; Cl 1,12-20; Lc 23,35-43

 

EVANGELHO: Lc 23,35-43

 

 

Naquele tempo, os chefes zombavam de Jesus dizendo: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!”

Os soldados também caçoavam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre, e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!”

Acima dele havia um letreiro: “Este é o Rei dos Judeus”.

Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!”

Mas o outro o repreendeu, dizendo: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”. Jesus lhe respondeu: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.

 

REFLEXÃO

“As Leituras bíblicas que foram proclamadas têm como fio condutor a centralidade de Cristo: Cristo está no centro, Cristo é o centro. Cristo, centro da criação, do povo e da história.

  1. O Apóstolo Paulo, na segunda Leitura tirada da Carta aos Colossenses, dá-nos uma visão muito profunda da centralidade de Jesus. Apresenta-O como o Primogênito de toda a criação: n’Ele, por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas. Ele é o centro de todas as coisas, é o princípio: Jesus Cristo, o Senhor. Deus deu-Lhe a plenitude, a totalidade, para que n’Ele fossem reconciliadas todas as coisas (cf. 1, 12-20). Senhor da criação, Senhor da reconciliação.

Esta imagem faz-nos compreender que Jesus é o centro da criação; e, portanto, a atitude que se requer do crente – se o quer ser de verdade – é reconhecer e aceitar na vida esta centralidade de Jesus Cristo, nos pensamentos, nas palavras e nas obras. E, assim, os nossos pensamentos serão pensamentos cristãos, pensamentos de Cristo. As nossas obras serão obras cristãs, obras de Cristo, as nossas palavras serão palavras cristãs, palavras de Cristo. Diversamente, quando se perde este centro, substituindo-o por outra coisa qualquer, disso só derivam danos para o meio ambiente que nos rodeia e para o próprio homem.

  1. Além de ser centro da criação e centro da reconciliação, Cristo é centro do povo de Deus. E hoje mesmo Ele está aqui, no centro da nossa assembleia. Está aqui agora na Palavra e estará aqui no altar, vivo, presente, no meio de nós, seu povo. Assim no-lo mostra a primeira Leitura, que narra o dia em que as tribos de Israel vieram procurar David e ungiram-no rei sobre Israel diante do Senhor (cf.2 Sam 5, 1-3). Na busca da figura ideal do rei, aqueles homens procuravam o próprio Deus: um Deus que Se tornasse vizinho, que aceitasse caminhar com o homem, que Se fizesse seu irmão.

Cristo, descendente do rei David, é precisamente o «irmão» ao redor do qual se constitui o povo, que cuida do seu povo, de todos nós, a preço da sua vida. N’Ele, nós somos um só; um só povo unido a Ele, partilhamos um só caminho, um único destino. Somente n’Ele, n’Ele por centro, temos a identidade como povo.

  1. E, por último, Cristo éo centro da história da humanidade e também o centro da história de cada homem. A Ele podemos referir as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de que está tecida a nossa vida. Quando Jesus está no centro, até os momentos mais sombrios da nossa existência se iluminam: Ele dá-nos esperança, como fez com o bom ladrão no Evangelho de hoje.

Enquanto todos os outros se dirigem a Jesus com desprezo – «Se és o Cristo, o Rei Messias, salva-Te a Ti mesmo, descendo do patíbulo!» –, aquele homem, que errou na vida, no fim agarra-se arrependido a Jesus crucificado suplicando: «Lembra-Te de mim, quando entrares no teu Reino» (Lc 23, 42). E Jesus promete-lhe: «Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso» (23, 43): o seu Reino. Jesus pronuncia apenas a palavra do perdão, não a da condenação; e quando o homem encontra a coragem de pedir este perdão, o Senhor nunca deixa sem resposta um tal pedido. Hoje todos nós podemos pensar na nossa história, no nosso caminho. Cada um de nós tem a sua história; cada um de nós tem também os seus erros, os seus pecados, os seus momentos felizes e os seus momentos sombrios. Neste dia, far-nos-á bem pensar na nossa história, olhar para Jesus e, do fundo do coração, repetir-lhe muitas vezes – mas com o coração, em silêncio – cada um de nós: «Lembra-Te de mim, Senhor, agora que estás no teu Reino! Jesus, lembra-Te de mim, porque eu tenho vontade de me tornar bom, mas não tenho força, não posso: sou pecador, sou pecadora. Mas lembra-Te de mim, Jesus! Tu podes lembrar-Te de mim, porque Tu estás no centro, Tu estás precisamente no teu Reino!». Que bom! Façamo-lo hoje todos, cada um no seu coração, muitas vezes: «Lembra-Te de mim, Senhor, Tu que estás no centro, Tu que estás no teu Reino!»

A promessa de Jesus ao bom ladrão dá-nos uma grande esperança: diz-nos que a graça de Deus é sempre mais abundante de quanto pedira a oração. O Senhor dá sempre mais – Ele é tão generoso! –, dá sempre mais do que se Lhe pede: pedes-Lhe que Se lembre de ti, e Ele leva-te para o seu Reino! Jesus é precisamente o centro dos nossos desejos de alegria e de salvação. Caminhemos todos juntos por esta estrada!” (Papa Francisco, Homilia, 24 de novembro de 2013)

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir.

Leituras da Liturgia :Sl 44; 1Cor 15,20-27a; Lc 1,39-56

Primeira Leitura (Ap 11,19a;12,1.3-6a.10ab)

19aAbriu-se o Templo de Deus que está no céu e apareceu no Templo a Arca da Aliança. 12,1Então apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas.

3Então apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo. Tinha sete cabeças e dez chifres e, sobre as cabeças, sete coroas. 4Com a cauda, varria a terça parte das estrelas do céu, atirando-as sobre a terra. O Dragão parou diante da Mulher, que estava para dar à luz, pronto para devorar o seu Filho, logo que nascesse. 5E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro. Mas o Filho foi levado para junto de Deus e do seu trono. 6aA mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar.

10abOuvi então uma voz forte no céu, proclamando: “Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo”.

Responsório (Salmo 44)

— À vossa direita se encontra a rainha,/ com veste esplendente de ouro de Ofir.

— À vossa direita se encontra a rainha,/ com veste esplendente de ouro de Ofir.

— As filhas de reis vêm ao vosso encontro,/ e à vossa direita se encontra a rainha/ com veste esplendente de ouro de Ofir.

— Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto:/ “Esquecei vosso povo e a casa paterna!/ Que o Rei se encante com vossa beleza!/ Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor!

— Entre cantos de festa e com grande alegria,/ ingressam, então, no palácio real”.

Segunda Leitura (1Cor 15,20-27a)

Irmãos: 20Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. 21Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos.

22Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. 23Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda.

24A seguir, será o fim, quando ele entregar a realeza a Deus Pai, depois de destruir todo principado e todo poder e força. 25Pois é preciso que ele reine até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. 26O último inimigo a ser destruído é a morte. 27aCom efeito, “Deus pôs tudo debaixo de seus pés”.

EVANGELHO: Lc 1,39-56 

Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.

Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.

REFLEXÃO

“No coração do mês de Agosto os Cristãos do Oriente e do Ocidente celebram conjuntamente a Solenidade da Assunção de Maria Santíssima no Céu. Na Igreja Católica, o dogma da Assunção — como se sabe — foi proclamado durante o Ano Santo de 1950 pelo venerado (…) Servo de Deus Papa Pio XII.  Tal memória, porém, mergulha as suas raízes na fé dos primeiros séculos da Igreja. (…)

Na página do Evangelho de São Lucas, da liturgia hodierna, lemos que Maria, ‘naqueles dias, levantou-se e foi às pressas às montanhas, para uma cidade de Judá’ (Lc 1, 39). Naqueles dias Maria apressava-se para ir da Galileia até a uma cidadezinha nos arredores de Jerusalém, para ir encontrar a sua prima Isabel. Hoje, contemplamo-la que sobe rumo à montanha de Deus e entra na Jerusalém celeste, ‘revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas’ (Ap 12, 1). (…)

É um mistério grandioso, aquele que hoje celebramos, é, sobretudo, um mistério de esperança e de alegria para todos nós: em Maria vemos a meta para a qual caminham todos aqueles que sabem vincular a própria vida à vida de Jesus, que O sabem seguir como Maria. Então, esta solenidade fala do nosso futuro, diz-nos que também nós estaremos ao lado de Jesus na alegria de Deus e convida-nos a ter coragem, a acreditar que o poder da Ressurreição de Cristo pode agir também em nós, tornando-nos homens e mulheres que, todos os dias, procuram viver como ressuscitados, levando à obscuridade do mal que existe no mundo, a luz do bem.” (Papa Émerito, Bento XVI, Angelus, 15 ago 2011)

 

ORAÇÃO

 “Ao celebrar a sua Assunção ao Céu em corpo e alma, oramos a Maria para que ajude os homens e as mulheres do nosso tempo a viverem com fé e esperança neste mundo, procurando o Reino de Deus em todas as coisas; oxalá ela ajude os crentes a abrirem-se à presença e à ação do Espírito Santo, Espírito Criador e Renovador, capaz de transformar os corações; ilumine as mentes acerca do destino que nos espera, da dignidade de cada pessoa e da nobreza do corpo humano. Maria, elevada ao Céu, mostra-te a todos como Mãe de esperança! Mostra-te a todos como Rainha da Civilização do amor!” (São João Paulo II)